Desde que eu li O Filho de Mil Homens que me encantei pela
escrita do Valter Hugo Mãe. Poético, intenso, imensamente humano. Cada livro é uma aventura poética, que provoca em nós a reflexão sobre temas importantes da vida. Tive a sorte de conhecer a escrita de Valter Hugo Mãe lendo O Filho de Mil Homens, que é meu grande favorito. Depois dele nenhum outro livro chegou tão perto do meu coração. Por tudo isso, a expectativa em relação ao novo romance, A Desumanização,
que acaba de ser lançado em Portugal (com previsão de lançamento aqui no Brasil
para o início de 2014) era das maiores. E o livro não me decepcionou. Continuou sendo essa leitura que instiga e que é por si só uma aventura.
Mas A Desumanização não é um livro fácil, que possibilite aquela leitura corriqueira e despretensiosa. Estava tão ansiosa para ler o livro que ele foi devorado tão logo chegou às minhas mãos. E apesar de ter gostado muito da leitura, terminei de ler com a sensação de quero mais, de quero outra vez, porque eu fui rápida demais. Então comecei a ler novamente. Sem pressa. Apreciando a linguagem como esse livro deve ser lido. E senti a necessidade de reescrever esse comentário sobre o livro.
Mas A Desumanização não é um livro fácil, que possibilite aquela leitura corriqueira e despretensiosa. Estava tão ansiosa para ler o livro que ele foi devorado tão logo chegou às minhas mãos. E apesar de ter gostado muito da leitura, terminei de ler com a sensação de quero mais, de quero outra vez, porque eu fui rápida demais. Então comecei a ler novamente. Sem pressa. Apreciando a linguagem como esse livro deve ser lido. E senti a necessidade de reescrever esse comentário sobre o livro.
A linguagem
poética de Valter Hugo Mãe parece emergir dessa Islândia onde a natureza é tão
forte, onde a solidão é tão grande. Sim, o livro fala de solidão, mas não só sobre isso. Fala de amor, de perdas, de luto, de relações familiares, e muitas outras coisas. E contando a
história de uma menina que perde a sua irmã gêmea quando criança, nessa Islândia
que passamos a imaginar pelas descrições como um lugar talvez difícil de se viver (uma representação do mundo de hoje?), onde as pessoas vão perdendo a sensibilidade para conseguir continuar vivendo diante de ações e sentimentos cada vez mais desumanos. A decadência da família de Halla é contada, e todo o sofrimento que a perda de sua irmã gêmea vai acarretar na vida das personagens é o fio condutor da história. Temos uma criança perdendo sua inocência e lutando para manter sua individualidade, e é bem chocante a figura materna nessa história, que não se conforma com a dor de perder uma filha, e que acaba por se tornar uma pessoa muito cruel pelo sofrimento. A filha que sobrevive será sempre a lembrança da que morreu. A solidão na dor e na ausência, por parte da mãe, e a solidão imensa da filha que fica "órfã" de mãe em vida e que perde sua metade, sua irmã.
“Um homem não é independente a menos que tenha a coragem de estar sozinho”, essa frase de Halldór Laxness, é a epígrafe do livro e a inspiração para o nome da personagem principal, Halldora, uma menina de 11 anos. É muito interessante ver a capacidade do autor de dar voz a essa personagem, narrando os sentimentos dessa menina, que ao longo do livro vai se tornando mulher, enfrentando todas as mudanças e descobertas que uma menina entrando na adolescência vai vivenciar.
Em A Desumanização, a figura paterna ganha força na história como ponto de equilíbrio diante da crueldade da figura materna. É o pai de Halla que traz a poesia e a literatura para a vida da filha e com isso ambos ganham uma dose extra de força para sobreviver aos desencantos:
Continuo achando que Valter Hugo Mãe é um dos escritores contemporâneos que devem ser lidos, porque em todos os livros dele terminamos a leitura refletindo sobre algo relevante. É sempre difícil terminar de ler um livro dele e dizer alguma coisa a respeito, pelo menos é assim que eu me sinto. É como se precisássemos de silêncio para que toda essa realidade dolorosa dos temas que ele aborda possa ser absorvida. E se essa não é a literatura que transforma, então eu não sei mais o que é. Creio que foi em O Filho de Mil Homens que o autor nos deu uma pequena permissão para sonhar, pois nos outros livros, e em A Desumanização não é diferente, por mais doloroso que nos seja, (por mais doloroso que seja para o autor também, como ele mesmo afirmou em entrevistas) a vida não perdoa os personagens. E nem todo leitor está preparado para esse tipo de leitura. Eu já espero ansiosamente pelo próximo livro do Valter Hugo Mãe.
Em A Desumanização, a figura paterna ganha força na história como ponto de equilíbrio diante da crueldade da figura materna. É o pai de Halla que traz a poesia e a literatura para a vida da filha e com isso ambos ganham uma dose extra de força para sobreviver aos desencantos:
"Os poemas, dizia o meu pai, podem ser completos como muito do tempo e do espaço. Podem ser verdadeiramente lugares dentro dos quais passamos a viver".
"O meu pai desentristeceu-me. Prometeu que leríamos um livro. Os livros eram ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o que não nos acontecia".
Continuo achando que Valter Hugo Mãe é um dos escritores contemporâneos que devem ser lidos, porque em todos os livros dele terminamos a leitura refletindo sobre algo relevante. É sempre difícil terminar de ler um livro dele e dizer alguma coisa a respeito, pelo menos é assim que eu me sinto. É como se precisássemos de silêncio para que toda essa realidade dolorosa dos temas que ele aborda possa ser absorvida. E se essa não é a literatura que transforma, então eu não sei mais o que é. Creio que foi em O Filho de Mil Homens que o autor nos deu uma pequena permissão para sonhar, pois nos outros livros, e em A Desumanização não é diferente, por mais doloroso que nos seja, (por mais doloroso que seja para o autor também, como ele mesmo afirmou em entrevistas) a vida não perdoa os personagens. E nem todo leitor está preparado para esse tipo de leitura. Eu já espero ansiosamente pelo próximo livro do Valter Hugo Mãe.
Valter Hugo Mãe. A Desumanização. Portugal: Porto Editora, 2013. 252 páginas
“O inferno não são os outros, pequena Halla. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti. Ser-se pessoa implica a tua mãe, as nossas pessoas, um desconhecido ou a sua expectativa. Sem ninguém no presente nem no futuro, o indivíduo pensa tão sem razão quanto pensam os peixes. Dura pelo engenho que tiver e perece como um atributo indiferenciado do planeta. Perece como uma coisa qualquer.” ...”Aprender a solidão não é senão capacitarmo-nos do que representamos entre todos.”
Link para uma entrevista do autor sobre A Desumanização: clique aqui
Link para o vídeo do autor apresentando o livro:
5 comentários:
Esse livro parece lindo. Vejo muitas pessoas falando bem do autor, mas acho que esse livro foi o que mais me interessou. Gostei muito da ideia da vida da garota estar sempre marcada pela morte da irmã, isso parece forte e definitivo demais e gostaria de saber como ele se virou, he he.
Pipa, eu não tenho página pessoal no facebook, então só "curto" com a fanpage, mas já percebi que não há notificação para isso. Por exemplo, não tinha recebido a sua. Só soube que era vc pelo comentário ;(
beijo grande,
Maira
Oi, Maira!
É lindo mesmo! Sou super fã do Valter Hugo Mãe. Leia mesmo e depois me conta o que achou :)
A fanpage foi criada do blog foi criada na segunda feira! Que bom que nos encontramos por lá também :)
beijo grande,
Pipa
Esse autor é mais um da minha série "nunca te li, sempre te amei". Mas vou resolver isso ainda esse ano. Beijinho! =)
Lua,
Leia mesmo, você vai gostar! :)
Recomendo começar por O Filho de Mil Homens :)
beijos,
Pipa
Nossaaaaaaaaaaaaaaaa!
Amei!! Eu quero essa preciosidade para mim. Tomara que ele seja publicado no Brasil logo no início de 2014.
Beijão
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