sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Fazes-me falta



"Quando os meus pais morreram, julguei que Deus se ria de mim e virei-lhe as costas. O padre que os enterrou só falava de pecados. Inferno e contrição. Os tios que tomaram conta de mim diziam-me que eles estavam no céu a velar pelo meu futuro, e eu enfurecia-me com esses pais mudos que me deixavam na solidão da noite interrogando as estrelas. Nunca os ouvi, como tu não ouves agora o que te digo. Mas o sorriso de Deus tocou-me, provando, na sua oscilação, que eles estavam lá, algures, no negro. E parecia-me que a graça da existência consistia em procurar vozes na noite - uma noite cuja cauda se arrasta pelo fundo do mar e pelo interior da terra, uma noite que o vapor branco do sol apenas abre um pouco mais. Assim me apaixonei pelos livros - pela noite que neles nos invade, quando os abrimos, pela noite que neles resiste, depois de lidos, relidos e fechados. Pela noite que prossegue, incansável, entre as palavras, as palavras sem dono, escritas da ausência para a ausência."

Inês Pedrosa. Fazes-me falta. São Paulo: Planeta, 2003. p.97

sábado, 6 de dezembro de 2008

Saramago

Porque eu achei lindo. E adoro o livro, e o Saramago. E porque ando sensível que só vendo.