segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

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E uma canção desesperada
(Lívia Natália)

A dor de uma mulher tem infinitas máscaras,
mas permanece dor, sob as cores pintadas.
A dor de uma mulher não dorme cedo,
ela espreita toda sua vida
e seu coração se crispa em segredo.

A dor de uma mulher não tem fantasmas,
não anda no escuro, ela se recolhe nas suas entranhas
como quem costura o imenso véu
que lhe cobrirá as feridas.

A dor de uma mulher tem que ser das mais fortes,
tem que ferir este bicho de morte,
este animal que sangra e sobrevive
às suas dobras vincadas de dor e medo.
Neste bicho estranho que se pinta de vermelho,
dentro e fora têm a mesma face estranha e calma.

A dor de uma mulher é violenta,
e ladra bestializada de seus próprios precipícios.
Crava seus dentes no tempo,
chora silente pra dentro
e se cura das feridas nos dias.

NATÁLIA, Lívia. Água Negra e outras águas. 2 ed. Salvador: Caramurê Publicações, 2016. p. 97

domingo, 25 de dezembro de 2016

Sorteio da virada



Nada melhor do que começar o ano com um ótimo livro, certo? 

Para participar do sorteio de um exemplar de "História de quem foge e de quem fica", de Elena Ferrante, é só preencher o formulário abaixo com seu nome e email, e responder a pergunta desafio. As inscrições podem ser feitas até o dia 31/12/2016, apenas através deste formulário, e o sorteio será realizado no dia 01/01/2017, às 10h. Sorteio válido apenas para residentes no Brasil. 

O resultado será divulgado aqui no blog. Boa sorte e que 2017 seja repleto de livros incríveis! :)

Para participar do sorteio, clique aqui.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Os melhores de 2016


Para quem gosta de listas, este é o momento de pegar um caderninho fofo e relembrar as melhores leituras de 2016 (e também de arrumar a estante e ir separando as leituras para o ano que vem). A seguir, a minha lista com o que li de mais legal em 2016:


Dias de abandono - Elena Ferrante
A filha perdida - Elena Ferrante
Butcher's crossing - John Williams
Quando o imperador era divino - Julie Otsuka
Ana de Amsterdam - Ana Cássia Rebelo
O pomar das almas perdidas - Nadifa Mohamed
Tirza - Arnon Grunberg
A vida invisível de Eurídice Gusmão - Martha Batalha
Meu nome é Lucy Barton - Elizabeth Strout
Sinfonia em Branco - Adriana Lisboa
Poesia completa - Orides Fontela 
Correntezas e outros estudos marinhos (Poesia) - Lívia Natália
Liturgia do fim - Marília Arnaud

E vocês, o que leram de bom esse ano? Quais os planos para 2017? Compartilhem comigo aí nos comentários, vou gostar de saber as melhores leituras de vocês :)

beijos e feliz natal!
Pipa

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Leituras de férias

O ano está acabando, o blog anda mais do que abandonado, e li pouco nos últimos tempos. Nessa semana de mini férias, tive a sorte de escolher livros deliciosos, que ajudaram bastante a passar o tempo no avião e a descansar um pouco a cabeça dos estudos, pelo menos por alguns dias. É sobre eles que vou escrever hoje, num post bem diferente do que costumo fazer (viva a preguiça!):


Pílulas Azuis, de Frederik Peeters

Uma história em quadrinhos super fofa e autobiográfica, na qual o autor conta como se apaixonou por Cati, uma mulher soropositiva. Sem ser sentimental demais, é uma história de amor bem real, com inseguranças e dramas, mas que encanta por ser tão humana e por trazer uma perspectiva pouco ou nada explorada que é a vida (normal) que as pessoas soropositivas podem ter. Foi a primeira coisa que li nas minhas mini férias e deu aquele calorzinho no coração. É bom ler sobre amores possíveis. Sou novata nas histórias em quadrinhos, mas gostei bastante dessa aqui.



A vida invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha

Fiquei super curiosa pelo título e por esta capa incrível, e não me decepcionei. Daqueles livros que a gente lê de uma sentada só. Fiquei encantada com a escrita tão leve e cativante dessa escritora de Recife. O romance narra a história de Eurídice e também de sua irmã, Guida, duas mulheres que, como a maioria das mulheres da época, foram criadas para abdicar de seus talentos para serem boas esposas. Mas nenhuma delas está feliz com isso e o livro, ambientando no Rio de Janeiro no começo do século XX, questiona bastante esse papel de submissão atribuído às mulheres, que não tinham direito a ter sua própria voz e a desenvolver seus talentos, pois suas famílias viam o casamento e os filhos como único destino possível e aceitável.

É impossível não se encantar pelas personagens criadas por Martha Batalha, todas tão reais que eu tenho certeza que você, assim como eu, já encontrou alguma (ou muitas) delas ao longo de sua vida. E gostei particularmente do tom leve do livro, que consegue questionar papéis importantes atribuídos às mulheres em nossa sociedade fazendo a gente se encantar por cada uma delas. Impossível não pensar em Um teto todo seu, de Virginia Woolf quando chegamos na última página (leia e você entenderá o que quero dizer. E se ainda não leu Um teto todo seu, não deixe o ano terminar sem fazer isso, por favor). Um livro que eu adorei ter lido nesse finalzinho de ano e que recomendo muito como uma excelente leitura de férias.

Leituras em andamento (porque a esperança de ler mais um pouquinho é sempre a última que morre...)


A room with a view, de E. M. Forster (Um quarto com vista)

Estava na minha lista TBR há milênios, sei que já foi adaptado para o cinema, mas confesso que não vi o filme ainda e estou me encantando com a escrita de Forster. Livro que faz você esquecer de olhar o relógio no avião é uma coisa abençoada. Vou tentar escrever mais sobre ele quando acabar a leitura, estou lendo sem a menor pressa e gostando muito.



Ainda pretendo ler Homens imprudentemente poéticos, de Valter Hugo Mãe e História de quem foge e de quem fica, de Elena Ferrante, antes do ano acabar. Guarde o melhor para o final, é o que dizem por aí. (E eu acredito que para lidar com todo esse espírito natalino a gente precisa mesmo dos nossos escritores preferidos.)

Bom natal para vocês, muita força para aguentar as perguntas indelicadas dos tios e tias sobre os namorados ou seu peso🙀🙈e lembrem-se: vale mais manter a sua paz interior e comer seu panetone em paz. \o/