terça-feira, 9 de outubro de 2012

A Escada Rolante



Era um dia normal em um dos shoppings mais movimentados da cidade. Cidade grande, com muita gente passando de um lado para o outro com pressa, quase sem se ver. Caminhava distraída olhando as vitrines, em direção à livraria mais próxima, que ficava no andar inferior. Andei até a escada rolante, que costuma ser a forma mais rápida de se locomover nos prédios de vários andares, já que os elevadores costumam ser lentos e quase sempre estão congestionados.

Antes de dar o primeiro passo em direção à escada rolante para o andar de baixo, atrás de mim uma moça se despedia de uma senhora, ou pelo menos foi o que me pareceu. A senhora, talvez nos seus 70 anos, não sei dizer ao certo, dizer a idade dos outros nunca foi um talento meu. Sempre achei difícil dizer com certeza o que o tempo representou para cada coração. As duas se despediram e a senhora desceu sozinha.

Enquanto eu descia a escada observando a movimentação nos andares do shopping, movimento intenso de pessoas tão diferentes caminhando de um lado para o outro, a senhora que estava atrás de mim na escada puxou conversa:

- O problema para mim é só quando chega ali no final.

Já estávamos quase na metade da escada e imaginei que a senhora estivesse com medo de se desequilibrar na hora de descer. Sorri e tentei tranquilizá-la:

- Não tem problema, é só a senhora dar um passo quando estivermos perto do chão. Não se preocupe.

Então, chegamos no andar de baixo. Desci e olhei para trás, já me preparando para ter que ajudá-la caso a senhora baixinha se desequilibrasse. Mas quando olhei, a senhorinha segurava com as duas mãos no corrimão da escada e tinha dado um pulo (e não o passo cuidadoso que eu havia dito e que esperava) e agora gargalhava de alegria, um sorriso de travessura daqueles que há tempos eu não via. Baixinha e com os olhos brilhando, ela olhava para cima, para a escada que subia e me disse, como se compartilhasse um segredo: “Que delícia! Vou de novo!” E subiu na escada contrária à que acabávamos de descer. E lá foi ela, com o rosto corado do esforço do salto, sorrindo, subindo a escada outra vez.

Não sei precisar ao certo se aquela havia sido realmente a primeira vez da senhorinha ali na escada, ou se a brincadeira já durava alguns minutos. Talvez a filha ou a nora, de quem se despediu lá no início da descida, já estivesse cansada de tanta aventura em uma escada rolante e resolveu se sentar um pouco, para descansar as pernas. Talvez não julgasse ter mais idade para esse tipo de coisa, em meio a um shopping tão cheio de gente, o que as pessoas iriam pensar, ora essa.

Caminhei em direção ao estacionamento, não sem antes descer mais umas duas ou três escadas, lembrando de como eu e minha irmã nos divertíamos no shopping subindo e descendo incansavelmente as escadas, enquanto meus pais olhavam lá de baixo, sempre pedindo “Não corram”, “Tenham cuidado!”, “Escada não é brinquedo!” Mas para nós duas era sempre a maior aventura. Não sei ao certo a idade da moça, nem muito menos da senhorinha, nunca fui boa em dizer idades. Creio que nunca serei. Mas acredito que depois dessa história será mesmo impossível dizer quando alguém ainda é criança, ou quando alguém já não sabe mais ser. Talvez só seja possível afirmar alguma coisa depois de ver como esse alguém se comporta em uma escada rolante.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Outubro Rosa


O Outubro Rosa é o mês de conscientização e combate do câncer de mama. No Brasil, estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), indicam que a doença será responsável por 52.680 novos casos até o fim do ano.
O movimento que dura o mês inteiro busca alertar sobre os riscos e a necessidade de diagnóstico precoce deste tipo de câncer, que é o segundo mais recorrente no mundo, perdendo apenas para o de pele.

Para pais e filhos


Com uma história cheia de ternura sobre um menino que era filho da chuva, o escritor português José Luís Peixoto faz sua estréia na literatura infantil. Em "A Mãe que Chovia" (Portugal, Editora Quetzal, 2012) JLP conta a história de um menino que, por ter uma mãe tão especial, precisa aprender a partilhá-la com o resto do mundo e a lidar com a saudade nos momentos em que ela está ausente.

O livro conta com lindas ilustrações de Daniel Silvestre da Silva e a poesia sempre presente nos textos do autor. Com essa história delicada e terna, JLP cria uma oportunidade maravilhosa para resgatar, no dia a dia atribulado dos tempos modernos, um tempo precioso entre pais e filhos: aquele momento dedicado à leitura e às histórias, permitindo uma conversa e um momento de interação valioso para a educação das crianças.

O livro certamente não se destina apenas às crianças, já que emociona adultos também, pois é uma grande homenagem ao amor incondicional das mães, representadas pela chuva que fertiliza, que dá vida, que inunda o mundo de amor. Uma linda história.

"Mesmo quando estou onde não podes estar, mesmo quando estás onde não posso estar, sabemos bem o tamanho dessa certeza que nos une. Eu tenho a certeza de ti, tu tens a certeza de mim. Amor, essa palavra. Mãe, choves essa palavra dentro de mim".


José Luís Peixoto. A Mãe que Chovia. Portugal: Quetzal, 2012.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Todo o amor do mundo


Viva Gabriela

Quando em livrarias, nunca perco a chance de olhar pelo canto do olho para ver o que o vizinho na fila está levando. Pode ser uma promoção que eu não vi; pode ser um autor que ainda não conheço; pode ser apenas por curiosidade mesmo, porque um livro diz muita coisa sobre aquele que o lê. Hoje foi a vez de presenciar uma cena que partiu meu coração.

Gabriela, uma menina de 6 ou 7 anos, pedia aos pais para comprar um livro para ela. Abri um sorriso. Há coisa mais linda que uma criança pedindo para ler um livro? Por livre e espontânea vontade? Mas os pais de Gabriela, sem apreciar a situação com os mesmos olhos, diziam que não, que ela não leria o livro. Fiquei chocada. Em tempos em que fazemos de tudo para que as crianças apreciem a leitura, não consegui entender aqueles pais. A professora em mim sentiu vontade de chamar os dois para uma conversa, aquele puxão de orelha bem educado que, com o tempo, aprendemos a dar nessa profissão. Sim, pais também podem precisar de um puxão de orelha, e isso tem acontecido com cada vez mais frequência. Mas a leitora em mim sofria junto com Gabriela, porque não há coisa pior que desejar um livro e não poder lê-lo. Fiquei tão revoltada com a cena que não conseguia me desligar do que acontecia. Principalmente porque dinheiro não parecia ser o problema ali.

Por sorte, Gabriela não desistiu. Andava de um lado para o outro, entre o pai e a mãe, implorando pelo livro. Eu torcia por Gabriela. Com argumentação forte, quase indiscutível, Gabriela estava ganhando: “mas pai, você não disse que eu tenho que ser mais esperta? Que eu preciso aprender a responder melhor quando me fazem uma pergunta? E quando eu quero ler um livro você não o compra para mim?” Sem resposta, o pai cedeu, enfezado. Gabriela não me parecia em nada uma criança que não sabe responder perguntas. “Pode levar o livro, Gabriela”, finalmente disse o pai. “Mas você vai ter que me contar a história, para provar que leu e entendeu”. Senti uma vontade de comprar o livro do Daniel Pennac (Como um romance, L&PM, 2008), para dar de presente a esse pai, depois de tantas demonstrações de nada saber sobre a leitura, aquela verdadeira, aquela por amor, a que não deve satisfações a ninguém e verdadeiramente motiva as pessoas a continuar a ler durante toda a vida.

Respirei fundo enquanto pensava, como um mantra: a filha não é sua, Paula, não se meta. Quando achei que o assunto estava resolvido, escuto uma nova discussão. Lá estava Gabriela, com um segundo livro na mão. O pai, bravo, dizia que não levaria mais nenhum; a mãe, segurando um romance nas mãos, tentava ajudar Gabriela: é que a menina queria levar dois livros, e os pais, no máximo, levariam um só. A menina justificava a compra do segundo volume: “mas pai, eu estou tão curisosa para saber o que acontece! Por favor, compra para mim!” O pai, irritado, dizia que não e ponto final. Gabriela, determinada, apelou para a mãe: “mãe, meu pai é muito pão duro! Por favor, compra esse livro para mim, eu estou muito curiosa para ler! Ele compra um e você compra o outro!” A mãe parecia estar sensibilizada com a filha, mas apoiou o pai e aconselhava a menina a levar o primeiro, que parecia mais interessante. Um só, Gabriela. Não teve jeito. Gabriela continuou argumentando, mas viu que era melhor garantir um dos dois. Para meu espanto, a mãe dizia que o livro era muito grande e que ela não conseguiria ler. A menina respondia determinada: “já li livros muito maiores do que esse. E eu queria muito ler o outro também, vocês deviam comprar os dois!” A menina já estava mais conformada com um livro só, mas não desistia de argumentar. Jorge Amado ficaria orgulhoso, Gabriela.

Confesso que senti vontade de comprar o livro para a menina, mas fiquei com medo da reação dos pais, talvez eles se ofendessem com o meu gesto. Fiquei pensando na benção que é gostar de ler e queria muito ter dito a Gabriela que estava orgulhosa. Queria ter lhe comprado o livro. Quando saí da livraria, desejei: que nunca faltem livros para crianças como Gabriela, para que elas não desistam de escolher o que lhes for interessante para ler. Torci para que logo ela aprendesse o caminho de alguma biblioteca da escola, que encontrasse algum professor que a motivasse a ler por prazer, como deve ser. E torci também para que algum dia essas crianças como Gabriela ensinem seus pais a ler.

domingo, 19 de agosto de 2012

domingo, 5 de agosto de 2012

'Til Kingdom Come

Só porque hoje é domingo e domingo é sempre um tédio. Em dias de tédio preciso desesperadamente de poesia, seja lá de que forma for.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

Feita na Bahia.


Para chamar boas energias. Sempre.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tempo de delicadezas

 
Maio chegou e os presentes começaram a chegar também, para minha alegria. Ganhei de uma amiga esse desenho de um artista com uma frase linda do Ariano Suassuna que tem tudo a ver comigo. Vou colocar em uma moldura e essa vai para a parede do meu quarto. Seja bem-vindo, maio! :)

Acabei descobrindo que o presente veio dessa loja aqui, cheia coisas lindas: Tertúlia Quem gostou pode comprar online :)

Hemingway

Hemingway quando jovem. Lindo de morrer.

Fonte: Hemingway in seinem Krankenbett im Lazarett des Roten Kreuzes im Juli 1918. | © Earl Theisen/Edition Olms Zürich

O filho de mil homens

"Para entreter curiosidades, o velho Alfredo oferecia livros ao menino e convencia-o de que ler seria fundamental para a saúde. Ensinava-lhe que era uma pena a falta de leitura não se converter numa doença, algo como um mal que pusesse os preguiçosos a morrer. Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente. O paciente respondia: não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então, o médico acrescentava: ah, pois fique sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemo-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro. O Camilo ria-se. Perguntava o que era colesterol, e o velho Alfredo dizia-lhe ser uma coisa de adulto que o esperaria se não lesse livros e ficasse burro. Por causa disso, quando lia, o pequeno Camilo sentia se a tomar conta do corpo, como a limpar-se de coisas abstratas que o poderiam abater muito concretamente. Quando percebeu o jogo, o Camilo disse ao avô que havia de se notar na casa, a quem não lesse livros caía-lhe o teto em cima de podre. O velho Alfredo riu-se muito e respondeu: um bom livro, tem de ser um bom livro. Um bom livro em favor de um corpo sem problemas de colesterol e de uma casa com teto seguro. Parecia uma ideia com muita justiça." (página 69)

 Valter Hugo Mãe. O filho de mil homens. São Paulo: Cosac Naify, 2011. 208 pp.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia Mundial do Livro

Em 1904, Kafka escreveu a seu amigo Oskar Polak: "No fim das contas, penso que devemos ler somente livros que nos mordam e piquem. Se o livro que estamos lendo não nos sacode e acorda como um golpe no crânio, por que nos darmos ao trabalho de lê-lo? Para que nos faça feliz, como diz você? Meu deus, seríamos felizes da mesma forma se não tivéssemos livros. Livros que nos façam felizes, em caso de necessidade, poderíamos escrevê-los nós mesmos. Precisamos é de livros que nos atinjam como o pior dos infortúnios, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido banidos para a floresta, longe de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro tem de ser um machado para o mar gelado de dentro de nós. É nisso que acredito." (Uma história da leitura - Alberto Manguel)
Feliz Dia Mundial do Livro pra você. :)

domingo, 15 de abril de 2012

Blue Valentine






Simplesmente apaixonei.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Birth of a book

Acordo, de manhãzinha, e é ainda cedo...

Acordo, de manhãzinha, e é ainda cedo, demasiado cedo para gestos bruscos, urgentes, como levantar, tomar duche, comer o pão, beber o café. Nesses momentos, em que já não é o sono que se prolonga mas o prazer quase animal de poder ali estar, recordo as páginas lidas horas antes, noite dentro, e a certeza de que o livro continua à minha espera enche-me duma alegria a que não sei dar nome, porque vem da infância mas não é exactamente infantil, porque é uma alegria feita de emoções, de medos, de surpresas, de encantamento, de incredulidade, de todas as coisas que fazem com que um texto me dê prazer, isto é: me comova ou me magoe.
Ou então, acordo e penso que o livro acabou ontem, tendo eu prolongado as horas de leitura nocturna para o poder terminar, como se não soubesse já que os livros amados devem ler-se muito devagarinho, adiando o inadiável fim, distendendo o prazer de cada página, cada frase, cada palavra. Sei, no entanto, que a esse livro se seguirá imediatamente outro, um que me espera na pilha que fui fazendo, ao sabor de coisas tão diferentes como uma crítica lida, a paixão por aquele escritor, a vontade de descobrir um que ainda não conheço ou tão-só o desejo súbito, numa livraria, de levar para casa um livro novo.
Ou ainda, acordo e penso que me apetece comprar um livro, dois, três, muitos, e que esse é um dia bom, porque é então que o desejo se torna realidade, e que passearei pelos corredores das livrarias, abrindo uns, folheando outros, sabendo que, muitas vezes, não sou eu quem escolhe o livro mas sim o livro que me escolhe a mim.

Maria Manuel Viana. Daqui ó

domingo, 25 de março de 2012

A língua absolvida

"Alguns meses depois de meu ingresso na escola, aconteceu algo solene e excitante que determinou toda a minha vida futura. Meu pai me trouxe um livro. Levou-me para um quarto dos fundos, onde as crianças costumavam dormir, e o explicou para mim. ...Falou-me, de forma animadora e séria, de como era lindo ler. Leu-me uma das histórias; tão bela como esta seriam também as outras do livro. Agora eu deveria tentar lê-las, e à noite eu lhe contaria o que havia lido. Quando eu acabasse de ler este livro, ele me traria outro. Não precisou dizê-lo duas vezes, e, embora na escola começasse a aprender a ler, logo me atirei sobre o maravilhoso livro, e todas as noites tinha algo para contar. Ele cumpriu sua promessa, sempre havia um novo livro e não tive que interromper minha leitura um dia sequer."

Elias Canetti. A língua absolvida: história de uma juventude.

Travellin on

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A arte de não fazer planos

Sempre que me perguntam sobre o futuro, ou como imagino minha vida daqui a alguns anos, nunca sei ao certo o que responder. Sempre olho admirada para essas pessoas que afirmam com tanta certeza seus planos para o amanhã, como se o futuro fosse coisa que se pudesse prever. Nunca tive muito talento para planejar as coisas, mas nem por isso coisas boas deixaram de acontecer.

Desde pequenos crescemos ouvindo perguntas difíceis como "o que você quer ser quando crescer?" e aprendemos rapidamente a responder algo, ainda que na verdade não façamos ideia do verdadeiro sentido de uma pergunta assim. Com o passar dos anos, somos cada vez mais requisitados a declarar aos quatro ventos os nossos planos e objetivos para o futuro, principalmente nessa sociedade competitiva em que vivemos hoje.

Mais importante do que essa capacidade de fazer planos é a forma como pretendemos alcançar o que desejamos ou talvez ainda a nossa própria capacidade de desejar. Não será nada útil passar a vida inteira desejando coisas impossíveis ou coisas que nada tenham a ver realmente com o que somos. Muitas vezes nos deixamos influenciar pelo que outras pessoas desejam para nós, sendo que na grande maioria das vezes esses planos não nos farão felizes. Ou estabelecemos objetivos tão difíceis, prazos tão surreais, que nos frustramos quando o tempo passa e não conseguimos realizá-los e ficamos tão cegos que não sabemos olhar ao redor e ver todo o resto que conseguimos. É preciso muita coragem e muita personalidade para não ser o que esperam de nós.

Que a vida é feita de escolhas, todos nós já sabemos. Para alguns, o mais importante pode ser trabalhar vinte e quatro horas por dia para ganhar dinheiro, mesmo não tendo tempo nem para a família. Para outros, pode ser mais importante trabalhar menos horas e ter uma melhor qualidade no tempo gasto, seja no trabalho, seja com a família. São pequenas escolhas que fazemos todos os dias, cuja importância nem percebemos.

Hoje em dia quase todo mundo parece se esquecer de que a vida também é feita de surpresas, de planos que não saíram como planejamos, mas que deram certo de uma outra maneira. Ou de coisas que nem esperávamos que acontecessem e que nos fazem infinitamente felizes quando acontecem. Talvez mais importante do que saber planejar o futuro seja nossa capacidade de nos adaptar ao que acontecer, sem nos frustrar diante das surpresas, sejam elas boas ou ruins, sabendo até mesmo apreciá-las. Afinal, como John Lennon sabiamente disse uma vez, a vida é isso que nos acontece enquanto fazemos outros planos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Hugo


Entre os muitos filmes em cartaz no momento tendo em vista a proximidade do Oscar, destaca-se A invenção de Hugo Cabret, dirigido por ninguém menos que Martin Scorsese. O filme conta a história do jovem órfão Hugo, que vive nos subterrâneos da estação de trem de Paris. Filho de um relojoeiro, Hugo aprendeu a consertar relógios e sua curiosidade natural o fez aprender a consertar brinquedos e outras máquinas. Depois que seu pai morre, tudo que restou de lembrança foi um boneco, um autômato, que o pai encontrou abandonado em um museu e passou seus últimos dias tentando consertar. O objetivo de Hugo passa a ser consertar o boneco na esperança de vê-lo funcionar outra vez e, quem sabe, ter alguma mensagem do pai. Em meio aos dias sozinhos na estação, ele conhece Isabelle, uma menina apaixonada por livros e pelas infinitas aventuras que eles proporcionam. Juntos, eles conseguirão fazer o boneco funcionar e viverão uma grande aventura.
Apesar de ser um filme infantil, vemos todo o talento de Scorsese ao envolver o público durante os 126 minutos de filme. Dizem que a filha de 12 anos do diretor leu e se encantou pelo livro, o que fez sua esposa perguntá-lo: porque você não faz um filme que a sua filha possa ver? E o resultado é uma história que demonstra amor nos mínimos detalhes e está entre os favoritos ao Oscar de 2012.
Hugo é uma declaração de amor ao poder da imaginação e à capacidade humana de sonhar e realizar sonhos através da arte, seja ela a literatura, seja o cinema. E nessa viagem pela história dos primórdios do cinema, passamos pela magia dos livros, que no filme são passados de mão em mão por um livreiro da estação, sempre em busca de um lar perfeito para eles. Refletimos sobre nossa própria capacidade de sonhar e realizar em nossas vidas aquilo a que viemos destinados a ser e fazer. Como o próprio Hugo diz, uma pessoa que perde o seu propósito na vida é como um brinquedo quebrado. Talvez o nosso propósito seja consertar coisas, talvez seja ajudar pessoas, talvez escrever histórias. O que fica de mais importante no filme é uma linda homenagem à capacidade humana de contar histórias, seja de que modo for.

Never let me go

Never let me go. Não me abandone jamais.

Já tinha me apaixonado pelo escritor Kazuo Ishiguro quando li The remains of the day e ontem quando finalmente vi Never let me go esse amor só se confirmou.
É um filme que faz pensar, definitivamente. Acho que o choque que é imaginar o futuro desse jeito, com clones criados exclusivamente para doar seus órgãos, é quase como um soco no estômago. Acredito que Ishiguro conseguiu de fato mostrar e nos convencer de que não podemos brincar de Deus, não sabemos as consequências.
É impossível não se encantar pelos personagens e sentir pena do destino que não escolheram. E até o último minuto fiquei esperando que eles fossem conseguir a chance de viver. Infelizmente, nesse futuro guiado por seres humanos egoístas, não há lugar para viver um amor. Não há lugar para viver.
Chorei tanto no final e depois achei melhor que não fosse o final feliz que eu estava esperando. Porque no fundo a gente sempre espera que um final perfeito vá resolver tudo, quando na verdade não vai. E a realidade mais pura e simples foi retratada por Ishiguro de forma a ser, sim, um soco no estômago, como se nos perguntasse: quem vocês pensam que são?
Acho que vale muito a pena ver esse filme para refletir.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Românticos anônimos


Acho que ando numa fase de filmes franceses. Principalmente se for docinho assim como esse. Com gosto de chocolate. Uma história de amor meio desajeitada como os personagens, tímidos e com medo de tudo. Mas com um pouquinho de coragem e paciência, acho que acima de tudo, aceitação com o que são de verdade, sem querer ser outra pessoa, eles acabam se entendendo. Do jeito desastrado que são.
Filme bom para aqueles dias em que carecemos de uma pitadinha de esperança. Ah, e não se esqueça de levar um chocolate com você, você vai precisar.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

The fantastic flying books of Mr. Morris

Fiquei tão apaixonada por esse vídeo, que compartilhá-lo é o mínimo que eu posso fazer. Lindo, de fazer brotar lágrimas nos olhos.


The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore from Moonbot Studios on Vimeo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Minhas tardes com Margueritte


Meu coração sempre se enche de alegria quando alguém me diz: "pipa, isso me fez lembrar você", principalmente quando "isso" é algo doce e delicado e cheio de ternura.
Dessa vez foi a Lia que disse "é lindo e você vai se apaixonar, ele fala daquele livro que você comentou, do velho que lia romances de amor". Essa semana então, finalmente, assisti ao encantador "Minhas tardes com Margueritte", que me fez chorar sozinha no cinema, e ainda um pouco depois de sair de lá. Há tempos não via algo tão lindo assim. E a história tem todos os elementos que contribuem para nos conquistar. Tem um homem grande e desajeitado, que cresceu sendo chamado de burro e menosprezado pelos amigos, professores e por sua própria mãe, mas que possui um coração sensível e nobre que enternece nossos próprios corações. Tem uma jovem bonita que se apaixona por esse grandão desajeitado e que nos dá uma lição sobre verdadeiro amor.



Tem uma velhinha que amava os livros, seus companheiros de uma vida inteira, "que lê como respira" e que com esse amor consegue ensinar a uma homem, que durante toda uma vida se julgou incapaz, que a leitura é um ato de compartilhamento, que ela transforma a vida das pessoas de uma maneira mágica e que todos somos leitores aptos a desvendar os caminhos de qualquer história, desde que tenhamos o coração aberto e sejamos inspirados por alguém generoso o bastante para saber compartilhar e passar adiante essas coisinhas fantásticas a que chamamos livros.


Fui ao cinema hoje outra vez para ver "Minhas tardes com Margueritte" e a emoção foi a mesma, e acredito que sempre será. Impossível não me identificar com essa história. Para mim é uma história de amor. E acho que eu me vejo daqui a uns anos, sentadinha em um banco de praça, lendo como a Margueritte, até acabar a luz. E confesso que desejo que essa luz me acompanhe até o final, mas, se não for possível, que olhos generosos me acompanhem em mais algumas histórias. Porque sem essas histórias fica mesmo difícil respirar.

*P.S: E se alguém quiser me fazer feliz, me dá esse filme de presente em DVD. Dei o meu de presente e agora não acho outro para comprar :(

Organizing the bookcase

O Arroz de Palma



Fiquei feliz por ter achado esse livro, uma belíssima estréia de Francisco Azevedo. A delicadeza da capa também está presente no texto, que nos conquista pela simplicidade e doçura com que essa história de família é contada. Dá pra sentir o cheiro do café fresquinho e do bolo saindo do forno, dá pra lembrar de nossas próprias histórias de família, dos avós, das travessuras de infância, do primeiro amor. Desafio qualquer um a ler "O arroz de Palma" e não se identificar com o que o autor conosco compartilha. Porque família somos todos e todos teremos, no mínimo, alguma lembrança querida, alguma história engraçada, pra contar. Ler esse livro foi um mergulho em lembranças que a correria do dia a dia às vezes nos faz esquecer, mas que merecem ser recontadas. Um livro com gosto de saudade, de nostalgia, e que se parece mesmo com um almoço de domingo em família. Recomendo.

Francisco Azevedo. O arroz de Palma. Rio de Janeiro: Record, 2008.

The Joy of Books

Dois Rios



Dois caminhos, dois irmãos...
Fiquei impressionada com a força narrativa deste livro, meu primeiro da Tatiana Salem Levy. Como a correnteza de um rio, as emoções dos dois personagens centrais dessa história, dois irmãos, são apresentadas ao leitor com a intensidade das paixões, mas com a delicadeza daqueles que tiveram a sorte de encontrar um amor.
Achei linda a metáfora do amor como um divisor de águas, do mar como possibilidade de partir ou de permanecer, trazendo o que há de bom, mas também levando o que mais se ama.
Acho que a Tatiana Levy merece todos os elogios que estão sendo feitos aos seus livros, porque é dessas escritoras que escrevem mesmo com paixão e com uma segurança que impressiona. Dois rios é um livro para se ler de uma vez só, seguindo o fluxo do texto, e se emocionando durante todo o tempo. Recomendo.

Tatiana Salem Levy. Dois Rios. São Paulo: Record, 2011.