Atualmente muita importância é dada às línguas estrangeiras, parecem ser
sempre mais belas e mais difíceis, tanto que geralmente nos esquecemos da
beleza e da riqueza de nossa própria língua. José Eduardo Agualusa, escritor
nascido em Angola, faz belo uso das palavras e nos presenteia com um romance
que pode ser descrito como uma história da língua portuguesa, seu ritmo, seus
desdobramentos, suas raízes. Uma história de alguém apaixonado por palavras,
pela vida própria que as línguas têm e seu poder de unir destinos e histórias
nos mais variados territórios.
Em Milagrário Pessoal, publicado no Brasil pela Editora Língua Geral,
especializada em publicar apenas escritores de países falantes de língua
portuguesa e cuja linda edição por si só já é um presente, Agualusa conta a
história de um velho professor angolano que reencontra uma ex-aluna, agora uma pesquisadora
especialista em neologismos, as palavras novas que vão surgindo nas línguas a
cada dia. Juntos os dois contarão uma fábula sobre a história da língua
portuguesa em uma das aulas de Lingüística mais simples e poéticas que já vi.
O livro é, acima de tudo, uma história de amor, bonita e delicada como o
próprio texto e capaz de emocionar diferentes leitores. É a história de um
homem mais velho que, com grande sensibilidade, nos ensina a apreciar a beleza
da vida nas coisas mais simples ao anotar em um caderno, seu "milagrário
pessoal", aqueles pequenos milagres cotidianos que dão sentido à vida e
que nem sempre valorizamos como deveríamos, o que é sem dúvida uma grande lição
para muitos de nós.
Milagrário Pessoal é um romance apaixonado sobre a língua portuguesa, o
passar do tempo, os amores impossíveis e a beleza das coisas pequenas, mas não
menos importantes. Um livro delicioso de ler e pelo qual é impossível não se
apaixonar.
"Vou anotando nas páginas do
meu Milagrário Pessoal os fatos extraordinários que me sucedem, ou de que sou
involuntária testemunha, dia após dia. É um diário de pequenos prodígios. Os milagres
acontecem a cada segundo. Os melhores costumam ser discretos. Os grandes são
secretos". (pág. 18)
José Eduardo Agualusa. Milagrário
Pessoal. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010.
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