quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Milagrário Pessoal

Atualmente muita importância é dada às línguas estrangeiras, parecem ser sempre mais belas e mais difíceis, tanto que geralmente nos esquecemos da beleza e da riqueza de nossa própria língua. José Eduardo Agualusa, escritor nascido em Angola, faz belo uso das palavras e nos presenteia com um romance que pode ser descrito como uma história da língua portuguesa, seu ritmo, seus desdobramentos, suas raízes. Uma história de alguém apaixonado por palavras, pela vida própria que as línguas têm e seu poder de unir destinos e histórias nos mais variados territórios.

Em Milagrário Pessoal, publicado no Brasil pela Editora Língua Geral, especializada em publicar apenas escritores de países falantes de língua portuguesa e cuja linda edição por si só já é um presente, Agualusa conta a história de um velho professor angolano que reencontra uma ex-aluna, agora uma pesquisadora especialista em neologismos, as palavras novas que vão surgindo nas línguas a cada dia. Juntos os dois contarão uma fábula sobre a história da língua portuguesa em uma das aulas de Lingüística mais simples e poéticas que já vi.

O livro é, acima de tudo, uma história de amor, bonita e delicada como o próprio texto e capaz de emocionar diferentes leitores. É a história de um homem mais velho que, com grande sensibilidade, nos ensina a apreciar a beleza da vida nas coisas mais simples ao anotar em um caderno, seu "milagrário pessoal", aqueles pequenos milagres cotidianos que dão sentido à vida e que nem sempre valorizamos como deveríamos, o que é sem dúvida uma grande lição para muitos de nós.

Milagrário Pessoal é um romance apaixonado sobre a língua portuguesa, o passar do tempo, os amores impossíveis e a beleza das coisas pequenas, mas não menos importantes. Um livro delicioso de ler e pelo qual é impossível não se apaixonar.

"Vou anotando nas páginas do meu Milagrário Pessoal os fatos extraordinários que me sucedem, ou de que sou involuntária testemunha, dia após dia. É um diário de pequenos prodígios. Os milagres acontecem a cada segundo. Os melhores costumam ser discretos. Os grandes são secretos". (pág. 18)


José Eduardo Agualusa. Milagrário Pessoal. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010.

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