domingo, 31 de janeiro de 2016

Euforia

A escritora estadunidense Lily King buscou inspiração na vida de uma das mais famosas antropólogas da história para criar o romance Euforia. Após ler a biografia de Margaret Mead (1901-1978), a autora usou algumas informações reais para elaborar as personagens (ficcionais) do seu romance, ambientado na Nova Guiné, na década de 1930. Sem dúvida uma forma de homenagem, já que, sabendo que o livro é um romance, ficamos curiosos para conhecer um pouco mais da vida dessa mulher que se destacou em sua carreira, teve uma vida interessante e serviu de inspiração para esta história de amor.

Mas quem foi Margaret Mead?

Margaret Mead teve grande importância na divulgação da antropologia enquanto ciência. Formada em psicologia pela Barnard e doutora pela Universidade de Columbia, Mead acreditava que a antropologia era uma nova forma de compreender o comportamento humano, algo indispensável para nos prepararmos para o futuro. Foi a primeira antropóloga a analisar o desenvolvimento humano através de uma perspectiva intercultural. Em seus estudos na Nova Guiné, ela demonstrou que os papeis de gênero diferem de uma sociedade para outra, dependendo também dos aspectos culturais (e não apenas do biológico, como se acreditava na época). Casou-se três vezes: o primeiro casamento, com Luther Sheeleigh Cressman; o segundo, com o antropólogo Reo Fortune; e o terceiro com o antropólogo Gregory Bateson, com quem teve uma filha. As mulheres altamente educadas da sua família, como a avó e a mãe, tiveram grande influência na formação de Mead. 

Na biblioteca do congresso dos Estados Unidos, que reúne hoje os mais de 5000 itens que constituem a sua produção, é possível encontrar uma carta de Mead para a sua avó logo após o primeiro casamento, em 1923, afirmando a sua decisão de manter o seu nome de solteira. Atitude que aliás manteve durante os três casamentos e que justificou com base no que sua mãe lhe ensinou: as mulheres deveriam manter a sua identidade e não se anular, o que já revela bastante de sua personalidade. Margaret Mead faleceu em 1978, em Nova Iorque.

“Never doubt that a small group of thoughtful, 
committed citizens can change the world.” 
Margaret Mead

***
Importante lembrar que o romance não é uma biografia, apenas teve Margaret Mead e seus dois últimos maridos como fonte de inspiração, visto que os três eram antropólogos e poderiam ter convivido em determinado momento de suas vidas. O mote perfeito para a criação do romance: um triângulo amoroso intenso e perigoso.

O romance narra a história de Nell Stone, uma importante antropóloga que, após escrever um livro e obter grande sucesso com uma pesquisa que causou polêmica, decide voltar ao local de suas pesquisas para desenvolver uma nova investigação. Assim, ela retorna para a Nova Guiné com o marido, Fen, também antropólogo, embora seu nome seja sempre ofuscado pelo talento da esposa. O sucesso de Nell, e o fato de seu trabalho ser muito mais reconhecido e aclamado que o dele, provoca grande desconforto em Fen, que representa o papel de homem que não se conforma com a conquista do espaço social e da igualdade pelas mulheres. Com isso, ele deixa de compartilhar informações com ela sobre suas investigações, criando um ambiente de tensão e também de violência, que percebemos já desde as primeiras páginas. Nesse sentido, o romance é interessante para pensarmos a construção social dos papéis de gênero - e como a violência é usada para manter a ordem patriarcal sempre que uma mulher consegue superar e ter mais destaque que os homens - o que é bastante atual e algo que certamente a autora encontrou nos próprios trabalhos de Margaret Mead.

Há mais de um ano vivendo entre diferentes tribos e em condições não tão favoráveis, Nell está bastante doente. Mesmo contra a vontade, o marido, Fen, acaba por aceitar voltar para o local de pesquisas inicial, onde a mulher poderia ter um pouco mais de conforto. É nesse momento que eles encontram um jovem antropólogo, Andrew Bankson, e uma amizade se estabelece entre os três, já que são praticamente os únicos ocidentais naquela região. 

Os cuidados e a atenção de Andrew, assim como a sintonia intelectual que ele estabelece com Nell, tornam cada dia mais evidente que Fen não nutre pela esposa tanto amor quanto diz, mas um sentimento de posse e, claro, de ciúmes. Mas não é só para Nell que Andrew se faz necessário: Fen, sem querer compartilhar seus resultados com a esposa com medo de que ela conquiste ainda mais sucesso que ele, passa a ter em Andrew um apoio para conversar e refletir sobre sua pesquisa, mesmo percebendo que há um interesse latente entre Andrew e Nell. Tudo isso ocorre entre tribos com culturas e línguas bastante diferentes, todas inventadas, como a autora nos informa depois, mas pautadas em características verdadeiras de alguns locais, o que serve muito para discutir nossa visão eurocêntrica de mundo, e a importância de respeitar as diferenças, o espaço e a cultura do outro, assim como ter uma ideia do dia a dia de um antropólogo em trabalho de campo.

As atividades dos três antropólogos ilustram um pouco a era de ouro da antropologia moderna, mostrando os desafios e os encantos dessa profissão que, conforme as próprias personagens mostram no romance, ainda estava se firmando como ciência e foi por conta dos trabalhos de pesquisadores como Margaret Mead, por exemplo, que conquistou seu espaço, e se tornou mais popular, não que isso não tenha ocorrido sem muita polêmica. A paixão de Nell e Andrew pela antropologia e a sintonia entre os dois pode ser percebida nas conversas e no compromisso com o lado humano dessa atividade que os dois personagens demonstram. Quando Andrew lhe pergunta qual a sua parte preferida na profissão, Nell responde:

" - Aquele momento, cerca de dois meses depois do início, quando você acha que finalmente entendeu um pouco o lugar onde está. De repente, ele parece estar ao seu alcance. É uma ilusão, só faz oito semanas que você chegou, e é seguida pelo desespero completo de se perguntar se um dia vai entender alguma coisa. Mas, naquele momento, o lugar parece inteiramente seu. 
É a mais breve e mais pura euforia." (p. 51)

E é justamente o sentimento de euforia que encanta Andrew, pois ele encontra em Nell uma pesquisadora apaixonada pelo seu trabalho, ciente da responsabilidade que ele implica, já que certos resultados podem ser apropriados de forma inadequada e para algo muito distante do que se tinha em mente, além de ser uma grande pesquisadora, disposta a compartilhar seu conhecimento com ele.

As anotações de campo, parte indispensável do trabalho de observação dos antropólogos ao se aproximar de uma outra cultura e relatar diariamente, por escrito, suas reflexões, estão presentes na narrativa que intercala a narração de Andrew com anotações dos próprios cadernos de Nell, complementando dessa forma o cenário que compõe o livro. 

Lily King criou uma história de amor envolvente, bem possível de ocorrer ainda nos dias de hoje, que nos faz pensar sobre a destruição que uma briga de egos pode gerar em um relacionamento, e isso não apenas nos relacionamentos amorosos, e no quanto as mulheres continuam sendo punidas por suas conquistas, seu talento, sua inteligência. Ou simplesmente por dizer não.


KING, Lily. Euforia. São Paulo: Globo Livros, 2016. Tradução: Adriana Lisboa



*Recebi este livro como cortesia da Editora Globo Livros

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Tirza


Todas as famílias felizes se parecem,
cada família infeliz é infeliz à sua maneira.
Liev Tolstói


O romance Tirza, do escritor holandês Arnon Grunberg, tem como enredo a história de uma família holandesa de classe média, formada por Jörgen, sua esposa (que não tem nome na narrativa) e suas duas filhas, a mais velha, Ibi, e a caçula, Tirza, que dá título ao livro.  
Jörgen é um editor de livros de ficção estrangeira em uma editora, tem uma casa em um dos melhores lugares de Amsterdã e aparentemente uma vida de fazer inveja a qualquer um. Isso até nos aproximarmos um pouco mais dessa história, narrada sob a perspectiva de Jörgen e, a cada capítulo, perceber a loucura, a violência, a tensão constante e a falta de estrutura da família Hofmeester. Prestes a se aposentar, Jörgen é um homem que faz de tudo para ser aceito pelas pessoas, importando-se mais com o que os outros pensam dele, pois para ele são os outros que nos definem. Ele quer a todo custo ter controle sobre tudo ao seu redor e ao falhar com frequência algumas atitudes suas reverberam a tensão que ele sente e tenta reprimir por ter falhado. 
A história começa com os preparativos da festa de despedida de Tirza, sua filha caçula e a preferida dele. Empenhado em fazer tudo da melhor maneira possível, mas sem a menor chance de ter sucesso, Jörgen aprende a cozinhar para cuidar de Tirza depois que a sua esposa o abandona para viver uma paixão de juventude. Apesar de passar anos esperando a volta da esposa, mesmo sem ter por ela um sentimento de amor, ele segue vivendo tentando controlar a vida que lhe resta. Ibi, sua filha mais velha, para seu desgosto abandona a faculdade e vai morar na França com o namorado, trabalhando em uma pousada. Mas nada disso parece de fato abalar Jörgen, afinal, ele tem Tirza em sua vida e a filha passa a ser sua obsessão. 
Alguns contratempos surgem na tão esperada festa de despedida de Tirza, que acaba de se formar e vai viajar para a África com o novo namorado. A esposa, que não aparecia nem dava notícias há anos, reaparece um dia antes da festa e para ficar. A relação conturbada dos dois fica então mais evidente, mas mesmo assim Jörgen, na tentativa de controlar tudo para que nada dê errado na festa de Tirza, não consegue reagir e aceita passivamente a volta da esposa, inclusive a dividir a mesma cama com ela. Tudo é muito estranho na família Hofmeester. E, como já imaginávamos, muita coisa dá errado na tão esperada festa de Tirza. Ainda que tente aparentar ser um ótimo pai e um excelente anfitrião, Jörgen não se encaixa em nenhum lugar. Sua tentativa de controlar tudo ao redor só gera mais e mais tensão e ele acaba por terminar a festa no quarto de ferramentas no jardim, dando espaço para o que já não consegue reprimir.
Depois da festa, e mesmo não aceitando o novo namorado de Tirza, o aparente controle que Jörgen tenta exercer o faz levar o casal até a sua casa de campo, para um último final de semana antes dos dois partirem juntos para África. Tudo já havia sido planejado por Jörgen, que quer a todo custo levar Tirza até o aeroporto e lidar, de sua forma 'torta', com a partida de Tirza.
Na terceira e última parte do romance, ambientado em África, quando Jörgen viaja em busca de Tirza, estamos mais uma vez diante do mundo através de visão eurocêntrica e obcecada de Jörgen, e as certezas desse homem se perdem e se confundem ao mesmo tempo em que as evidências passam a fazer cada vez mais sentido para o leitor.
Uma narrativa brilhante, envolvente até a ultima página, e apesar de tratar de temas tão difíceis em um cenário simples, já que praticamente 80% do romance se passa na própria casa dos Hofmeester, é um livro que nos intriga e nos faz refletir durante toda a leitura. Tirza, como toda boa literatura, faz o leitor sair de sua zona de conforto. E como tudo o que nos inquieta, continua martelando em nossa mente por um bom tempo.

GRUNBERG, Arnon. Tirza. Rio de Janeiro: Rádio Londres, 2014.

*Escolhi e recebi este livro como cortesia da Rádio Londres Editores.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Mary Reilly


A clássica história de O médico e o monstro, que gira basicamente em torno de personagens masculinos, é recontada a partir da perspectiva feminina em Mary Reilly, da escritora estadunidense Valerie Martin. O romance é narrado por Mary, a empregada da casa do Dr. Jekyll que, em sua perspectiva duplamente subalterna, por ser mulher e por ser uma trabalhadora pobre, revela um novo olhar sobre a famosa história de Robert Louis Stevenson.
Inicialmente conhecemos um pouco do passado de Mary, cujo corpo carrega cicatrizes de toda a violência que sofreu do seu próprio pai, um homem que bebia e descontava na filha suas frustrações. Após muitos incidentes, Mary é levada pela mãe para o hospital e depois disso as duas fogem do comportamento abusivo do pai, mas as marcas de toda essa violência ficam para sempre no corpo e na alma de Mary.
Diferente da maioria das mulheres de sua classe social, Mary aproveita as precárias condições da escola pública que frequenta, e que mais tarde descobre ser financiada pelo próprio Dr. Jekyll, e consegue aprender a ler e a escrever. Enquanto trabalha na casa do Dr. Jekyll, o fascínio pelos livros fica claro quando está limpando a biblioteca do patrão, algo que ele observa e valoriza, incentivando-a a escrever a história daquelas cicatrizes para ele. Após registrar a história que o patrão solicitou, Mary começa a escrever uma espécie de diário e vê na sua escrita uma forma de deixar a sua história para o mundo, uma forma de não ser esquecida, pois, ciente da invisibilidade de sua condição, por ser mulher e por ser uma simples criada, ela sabe que sua visão da história não será ouvida. A escrita é, portanto, uma forma de empoderamento. 
O dilema do médico e do monstro é recontado através da narrativa envolvente de nossa narradora que, a cada dia, vai desvendando o segredo que o Dr. Jekyll esconde de todos, mas que não consegue ocultar de Mary. Uma leitura interessante principalmente para quem já leu O médico e o monstro.

*O romance foi adaptado para o cinema em 1996 por Stephen Frears e tem Julia Roberts no papel de Mary Reilly.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O médico e o monstro: O estranho caso do dr. Jekyll e sr.Hyde



Escrito em 1885, O estranho caso do dr Jekyll e sr. Hyde é um dos grandes clássicos da literatura gótica inglesa. Ambientado em Londres, O médico e o monstro, como também ficou conhecido, narra a história do dr; Jekyll, um respeitado médico e cientista e um indivíduo muito esquisito, o sr. Hyde., que passa a frequentar a casa do renomado dr. Jekyll e que tem um comportamento violento e agressivo. Certa noite, o sr. Hyde comete um crime e tanto a polícia quanto os amigos próximos do dr. Jekyll passam a procurá-lo e a tentar desvendar qual a relação que o une ao médico. Os amigos suspeitam de uma chantagem, pois o dr. Jekyll deixa toda a sua fortuna em testamento para o sr. Hyde, caso algo aconteça com ele. A narrativa se desenvolve como uma boa história detetivesca, prendendo a atenção até do leitor até o fim. [Se você não gosta de spoilers, este é o momento de parar de ler a resenha :) ]

Enquanto o dr. Jekyll vive uma vida pacata, sua curiosidade acerca da natureza humana e seu inconsciente fazem com que ele elabore uma fórmula capaz de separar o bem e o mal que habitam todo ser humano. Ao tomar a fórmula por ele elaborada, dr. Jekyll se transforma no sr. Hyde (Hyde refere-se a hide em inglês, que significa esconder, ocultar), um homem perverso e violento, que representa o seu lado do mal, a sua sombra, o seu duplo. Cada vez que toma a fórmula, acontece essa transformação que permite que Jekyll, através do corpo do sr. Hyde, consiga expressar seus sentimentos mais mundanos, sem nenhum remorso ou consciência de que faz algo errado. Hyde representa a total liberdade, onde não há moral nem ética, apenas os impulsos mais animalescos. Nesse sentido, o romance é  uma reflexão sobre a dualidade do homem, ou seja, bem e mal coexistem em todo ser humano, assim como uma reflexão interessante sobre consciente e inconsciente, id e ego, e tudo o que nos impede de nos tornarmos monstros. 

Com o tempo, a fórmula precisa de uma dosagem cada vez maior para fazer efeito, e o dr. Jekyll sente que a cada dia o lado sombrio fica mais forte, passando a se apossar de sua personalidade quando deseja, enquanto o médico fica cada vez mais fraco. Até o dia em que a fórmula acaba e não pode mais ser preparada (não se encontram mais os mesmos ingredientes) e o grande mistério que envolvem Jekyll e Hyde finalmente é revelado para os amigos. Um texto curto e muito envolvente, que mostra o que torna uma obra universal: mesmo tanto tempo depois é uma história que permite reflexões atuais e garante o mesmo prazer durante a leitura.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Vésperas, de Adriana Lunardi


Termino de ler o livro de contos Vésperas, de Adriana Lunardi, com um misto de surpresa e satisfação. Cada um deles me carregou por inteiro pelas vidas dessas personagens que de uma forma ou de outra partiam, destacando assim a finitude da vida, mas sem deixar de falar da própria vida. Os nove contos do livro tem como título o nome de uma escritora, homenageando dessa forma grandes autoras, cujas biografias se mesclam com a escrita ficcional e poética de Lunardi em contos de muita beleza. De Virginia Woolf a Clarice e Júlia da Costa, Vésperas é um passeio pela história literária das mulheres.

O primeiro conto, Ginny, é o meu preferido e reconta o último dia da escritora Virginia Woolf, os últimos momentos antes do seu suicídio, e consegue ser poético e verdadeiro, como se cada um de nós de fato estivéssemos lá. Difícil não se emocionar.

O segundo conto, intitulado Dottie, descreve a solidão de uma mulher idosa que vive sozinha com o seu cachorro em um apartamento. Relembrando a beleza e o glamour da vida que teve em sua juventude, e contando apenas com a atenção sincera que o seu cachorro lhe oferece, Dottie é o retrato dos últimos dias da escritora Dorothy Parker.

O conto Ana C. narra os últimos momentos da vida de um homem de cinquenta anos, doente já há algum tempo por conta da AIDS. Em seu quarto, recebendo os cuidados de uma enfermeira que o acompanha, começa a piorar e é necessário ser levado ao hospital em uma ambulância. Os percursos imaginados por várias cidades são fantasiados pelo personagem no trajeto entre a casa e o hospital, como se despedisse dos lugares que não poderá mais visitar. Entre sedativos e cuidados médicos, há o encontro mágico com a amiga e escritora Ana Cristina César, que se suicidou aos trinta anos.

Minet-Chéri é uma homenagem à escritora francesa Colette, que faleceu aos 81 anos de idade e cujo funeral foi realizado com honras de chefe de Estado. Colette teve vários amores ao longo de sua vida e publicou dezenas de livros. No conto, Lunardi ficcionaliza seus últimos momentos de vida.

O conto Clarice, em referência à Clarice Lispector, narra a história de uma adolescente que chega ao Rio para se encontrar com o pai que acaba de conhecer e com o qual não tem nenhuma identificação. Chegando ao Rio, quer visitar o cemitério do Caju, onde está o túmulo da escritora Clarice Lispector, cujos livros tem uma importância tal em sua vida que é como se ela fosse parte da família.

Kass é uma referência à escritora Katherine Mansfield, que morreu aos 34 anos vítima de tuberculose, e narra os útlimos momentos de vida de Katherine, que esperava o marido chegar de uma viagem para finalmente dele poder se despedir.

Victoria foi o pseudônimo usado pela escritora  americana Sylvia Plath para publicar seu livro, A redoma de vidro, semanas antes de se suicidar, em fevereiro de 1963, em Londres. O conto Victoria retrata o impacto que a notícia da morte da poeta Sylvia Plath tem um homem de sessenta anos, cuja esposa também se chama Sylvia. A notícia o faz refletir sobre a perda de comunicação com a esposa ao longo dos anos de casamento, fazendo-o sentir saudade dela.

Flapper é também o nome do estilo de comportamento criado por Zelda Fitzgerald e retratado nas personagens dos romances de seu marido, o escritor F. Scott Ftizgerald. O conto narra os últimos instantes de vida de Zelda antes do incêndio no sanatório em que estava internada.

O conto Sonhadora ficcionaliza a história da escritora paranaense Júlia da Costa, que faleceu em julho de 1911, aos 62 anos, e que passou os últimos anos de vida reclusa, após ter ficado cega. Por meio da escrita poética de Lunardi imaginamos as muitas histórias que Júlia teria escrito se não tivesse perdido a visão e recuperamos a vida de uma autora que tem sido apagada da história literária brasileira.

***

LUNARDI, Adriana. Vésperas. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Águas Turvas

Águas turvas, de Helder Caldeira, é um desses livros que mais parecem roteiro de cinema, dada a simplicidade da narrativa. Permeado de referências musicais, o romance narra a história de Gabriel Campos, um jovem médico que decide ir para os Estados Unidos fazer uma especialização logo após a morte dos pais.

Gabriel teve uma vida solitária vivendo no interior do Brasil com os pais. Logo cedo aprendeu a silenciar seus desejos e sua sexualidade para não ter que enfrentar conflitos, visto que vivemos ainda em uma sociedade preconceituosa, que precisa aprender a aceitar as diferenças. Aos 25 anos Gabriel deixa a fazenda dos pais e começa a estudar medicina, tornando-se um grande médico. As dificuldades por ser homossexual continuam a afetá-lo mesmo na faculdade, onde sofre grande violência por parte de um dos colegas, o que gera em Gabriel um trauma que o manterá sozinho por algum tempo.

Nos Estados Unidos, mais especificamente em Massachusetts, ele se esbarra no aeroporto com o jovem empresário Justin Thompson, herdeiro de uma família abastada de uma pequena cidade da região. O breve encontro no aeroporto é um daqueles momentos que causam grande impressão nos dois, que se apaixonam à primeira vista. Os encontros e desencontros de Gabriel e Justin dão forma a uma bonita história de amor, que fala de traição, relações familiares e adoção e apresenta de forma positiva uma nova configuração de família. Nesse sentido, o romance possibilita uma reflexão interessante sobre preconceito e homofobia, apesar de conter muitos clichês que o tornam mediano e de reconstruir a relação do casal Gabriel e Justin ainda com base no modelo heterossexual. Contudo, o final feliz para a história de amor desse casal abre espaço para uma identificação mais positiva dos homossexuais com uma história de amor bem ao estilo de Hollywood, uma representação que também precisa existir e circular na literatura.

***

"A firmeza do verão, as dúvidas outonais e a solidão do inverno dão lugar a todas as possibilidades de uma primavera. É por isso que o tempo é tão imperioso e impiedoso com cada um de nós quando tomamos uma decisão importante na vida. O tempo - e só ele - é capaz de nos colocar diante daquilo que mais nos assusta ao longo da existência: a liberdade e a responsabilidade de sermos nós mesmos e tomarmos nossas próprias decisões. Decidir é um processo, um percurso, um ciclo. E nunca terá um fim em si mesmo" (p. 19).

CALDEIRA, Helder. Águas turvas. São Paulo: Quatro Cantos, 2014. 269 páginas.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Feliz ano novo e melhores leituras de 2015

por Liniers



O primeiro dia do ano tem uma energia boa de recomeço, de esperança. É também o dia em que gosto de listar as melhores leituras do ano que passou (foram muitas!) e pensar nos livros que pretendo ler no novo ano que se inicia. Ainda estou devendo algumas resenhas e elas vão aparecer por aqui nessa primeira semana de janeiro. A seguir, listo as dez melhores leituras de 2015, e chamo a atenção para um fato importante: as mulheres arrasaram no meu top 10! ;) Que a gente continue lendo e descobrindo autoras incríveis em 2016 e que a magia dos recomeços nos inspire a lutar e acreditar sempre em dias melhores. Obrigada pela paciência e pela companhia em 2015, espero contar com vocês para compartilhar minhas leituras em 2016. Obrigada por todos os recadinhos carinhosos que recebo aqui e na página do blog no facebook e no Instagram, eles sempre me alegram. 

Feliz ano novo!

um beijo,

Pipa

"May your coming year be filled with magic and dreams and good madness.  I hope you read some fine books and kiss someone who thinks you're wonderful, and don't forget to make some art - write or draw or build or sing or live as only you can. And I hope, somewhere in the next year, you surprise yourself."
(Neil Gaiman)

As 10 melhores leituras de pipa:

1. Tudo são histórias de amor - Dulce Maria Cardoso
2. Reze pelas mulheres roubadas - Jennifer Clement
3. Minotauro - Benjamin Tammuz
4. Three Guineas - Virginia Woolf
5. O buda no sótão - Julie Otsuka
6. Hanói - Adriana Lisboa
7. Después del invierno - Guadalupe Nettel
8. O Xale - Cynthia Ozick
9. As pequenas virtudes - Natália Ginzburg
10. A amiga genial - Elena Ferrante
E também O olho mais azul, de Toni Morrison :)