Obrigada por me acompanhar. Ainda que seja para caminhar ao meu lado em silêncio. Não compartilhamos os nossos silêncios com qualquer pessoa. Só com aquelas com as quais a nossa alma conversa. Os dias estão tão confusos, tanta gente falando ao mesmo tempo, quase não consigo ouvir meu coração. Silêncio é bom. É como se alcançássemos por alguns instantes a eternidade. Tenho vontade de segurar tua mão como fazia antigamente. Para atravessar a rua, passear nesse parque. Por que deixamos de dar as mãos? Já não me lembro. Em algum lugar entre o ser criança e essa vida louca. Sinto saudade desse tempo em que nada perturbava o meu sono, nada conseguia deixar inquieto meu coração. Não havia grandes decisões a serem tomadas. Viver bastava. Era um tempo bom e a gente não sabia. E vivíamos sonhando com o futuro. Que tolos éramos nós!
Caminhar por esse parque traz calma ao meu coração. Sinto-me mais forte por você estar aqui. És o meu chão. Fico me perguntando se você ainda sabe disso. Costumava dizer isso sempre quando era criança, e depois não sei mais porque deixei de lhe dizer. Porque mesmo que deixamos de dizer as coisas mais importantes?
Estava pensando e pensando sem parar sobre o que tenho que fazer, sobre a grande decisão que eu tenho que tomar, até você chegar. E trazer de volta a paz. Você sempre disse que eu fico nervosa à toa, mas não sei ser diferente. Nunca soube. Ir ou ficar, partir ou chegar, sempre é tão difícil escolher. E mesmo que eu não dissesse nada, bastava um olhar e você me via por inteiro. Espelho.
Caminhar mais um pouco para acalmar o coração, assim em silêncio mesmo. Nossas almas conversam, se entendem. Sempre foi assim. Mesmo que eu não diga nada. Mesmo que a gente não dê as mãos. Há uma força tão grande nesse amor que pode afastar qualquer coisa dolorosa do caminho. Espanta o medo, apaga a dor, alimenta. Amor-chão.
(Paula Dutra - 28/09/2013)
*texto inspirado em uma fotografia, exercício de escrita criativa - a fotografia em preto e branco é de um parque no inverno, provavelmente coberto de neve. No plano de fundo, duas mulheres caminham lado a lado.
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