segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A traidora honrada

Ganhei esse livro de uma amiga querida de presente de natal e fiquei curiosa para ler mais uma escritora que eu não conhecia e de um país que ainda não constava em minha lista de leituras.

A traidora honrada é um romance que aborda traição e mentira em um vilarejo durante o rigoroso inverno escandinavo. A escrita aguda e tensa de Jansson causa desconforto, estranhamento. O enredo conta a história de uma ilustradora, Anna Aemelin, que há anos morava sozinha em uma casa grande e mais afastada do vilarejo. Katri Kling é uma daquelas pessoas que sabe o que quer e faz o possível para conseguir. Katri tem 25 anos e é bem misteriosa. Em um lugar onde é comum ter olhos azuis, ela tem olhos amarelados e mora em cima de uma mercearia com seu irmão, Mats, dez anos mais jovem. É uma mulher determinada, que não gosta de nada nem de ninguém, exceto de seu irmão. Os dois costumam ler em silêncio, lado a lado, todas as noites. Katri é muito boa com números, tem um cachorro e o respeita, mas  não gosta muito dele, nem para lhe dar um nome. Já Anna é uma mulher tranquila, que durante a primavera gosta de sentar-se ao ar livre para observar a floresta e desenhar, e é muito respeitada em todo o vilarejo por sua gentileza. Quando a neve do inverno cobre todo o vilarejo, Anna já não sai mais para trabalhar. Isolada, acaba aceitando que Katri e seu irmão Mats se mudem para sua casa, após uma falsa tentativa de arrombamento da casa, que a deixa assustada. Com seu jeito silencioso e solícito, Katri acaba entrando de tal forma na vida de Anna que passa a cuidar até mesmo de seus negócios. A partir daí tudo muda na vida dessas personagens, que possuem uma visão de mundo completamente diferente. A narrativa é angustiante e intensa. e expressa o conflito entre duas pessoas tão diferentes, mas também discute o que é a honestidade e as muitas faces da traição.

Toda a história se passa durante um longo inverno no qual as duas mulheres, com base em mentiras, aquelas que contamos para os outros e aquelas que contamos para nós mesmos, travarão uma espécie de batalha pelos seus ideais e terão muitas ilusões desfeitas. 
É um romance desconcertante, diferente, que terminamos de ler sem saber ao certo o que se passou durante a leitura das 160 páginas que não conseguimos deixar de ler até o fim.
O livro não foi nada do que eu estava esperando, e ainda estou pensando sobre ele, mas valeu a pena conhecer mais uma escritora que é muito aclamada na Escandinávia. E que também criou os Moomins :-)

Tove Jansson (1914-2001) nasceu em Helsinque e pertencia à minoria de língua sueca que vive na Finlândia. Teve seu primeiro trabalho de ilustração publicado aos 15 anos, e quatro anos depois publicou um livro sob pseudônimo. Após temporadas estudando Belas Artes em Paris, retornou a Helsinque, onde, nos anos 1940 e 1950, ganhou renome por suas pinturas e murais. De 1929 a 1953, trabalhou com ilustrações de humor e charges políticas para a Garm, uma revista antifascista de esquerda publicada na Finlândia e na Suécia. Moomintroll, um personagem sonhador e com feições que lembram um hipopótamo -  a mais famosa criação de Jansson - fez sua primeira aparição nessa revista. As aventuras de Moomintroll e da família Moomin renderam uma duradoura série de quadrinhos e uma extensa coleção de livros infantis. Jansson também é autora de onze romances e de coletâneas de contos para adultos, entre os quais The Summer Book. Em 1994, ela recebeu o Prêmio da Academia Sueca. Seus livros foram traduzidos para 44 idiomas. 

Para ler o primeiro capítulo do romance, clique aqui.
Para ver o museu virtual da escritora, clique aqui.
Para ler uma reportagem da BBC (em inglês) sobre o centenário de Jansson, clique aqui.

JANSSON, Tove. A traidora honrada. Belo Horizonte: Autêntica; Rio de Janeiro: A Bolha Editora, 2012. Tradução: Guilherme da Silva Braga. Coleção Just a Bubble.

4 comentários:

Julyana B. disse...

Ótima resenha, como sempre.

E essa sua amiga precisa aprender a te dar coisas menos sombrias.

Pipa disse...

:) :)

Lua Limaverde disse...

Fiquei curiosa, Pipa, esses escandinavos sempre têm um pé (ou os dois) na melancolia. Linda resenha. =)

Michelle disse...

Adoro literatura escandinava! Já anotei a dica nos desejados. Aliás, o tema se encaixa em um dos meses do desafio Skoob. Vou indicar para os participantes.
Beijo e um excelente 2015!