sexta-feira, 4 de março de 2016

Sinfonia em branco



Foi com Sinfonia em branco que Adriana Lisboa conquistou o Prêmio José Saramago em 2001. Nas palavras de Pilar Del Rio, que escreve o prefácio da edição brasileira, Sinfonia em branco é um daqueles livros que permanecem nítidos em nossa memória, resistindo ao tempo, como só as grandes histórias conseguem permanecer.

A sinfonia que dá nome ao livro, e que conduz as personagens tão complexas dessa história, é a música invisível que muitas vezes nos aterroriza: o silêncio. Nas relações familiares que o livro descreve, é a ausência de palavras que machuca, destrói, atordoa. Os silêncios habitam a casa da família composta por Afonso Olímpio (o pai), Otacília (a mãe) e as filhas Clarice (mais velha) e Maria Inês (a caçula). É a relação entre as irmãs o eixo central do romance.

Tão diferentes uma da outra, Clarice é recatada, quieta, obediente – ajustando-se a todas as expectativas impostas às mulheres desde cedo. Maria Inês é o oposto – quer aventuras e liberdade e resiste a esse papel. Mesmo tão diferentes, as duas irmãs possuem uma forte ligação – e ela é o único elo que elas têm com o passado, com o antes de tudo. Ao mesmo tempo unidas e separadas por esse segredo, cada uma trilhou um caminho distinto, mas um caminho que carrega as marcas do silêncio que sempre prevaleceu em suas famílias.

Entre presente e passado, o romance nos transporta para a infância e adolescência das personagens para que possamos compreender muito do que elas são na idade adulta. Cada escolha, cada palavra silenciada, deixa uma marca como aquela deixada por um quadro que ficou muito tempo na parede e depois é retirado. Um espaço vazio que não permite que nada seja esquecido.

Sinfonia em branco é um romance sobre muitas coisas. Relações familiares, violências e segredos, memória e esquecimento, amor e recomeços. Escrito com a linguagem poética e delicada de Adriana Lisboa, é mesmo um livro difícil de esquecer. A cada página, somos atropelados pela dor dessas personagens, por tudo o que não é dito - e como esse silêncio grita! - uma sinfonia de vidas e de mágoas regida pela maestria de uma grande escritora. Tão lindo que eu não sei recomendá-lo o suficiente.

Para ler um trecho do livro, clique aqui.


 LISBOA, Adriana. Sinfonia em branco. 2ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

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