domingo, 10 de janeiro de 2016

Vésperas, de Adriana Lunardi


Termino de ler o livro de contos Vésperas, de Adriana Lunardi, com um misto de surpresa e satisfação. Cada um deles me carregou por inteiro pelas vidas dessas personagens que de uma forma ou de outra partiam, destacando assim a finitude da vida, mas sem deixar de falar da própria vida. Os nove contos do livro tem como título o nome de uma escritora, homenageando dessa forma grandes autoras, cujas biografias se mesclam com a escrita ficcional e poética de Lunardi em contos de muita beleza. De Virginia Woolf a Clarice e Júlia da Costa, Vésperas é um passeio pela história literária das mulheres.

O primeiro conto, Ginny, é o meu preferido e reconta o último dia da escritora Virginia Woolf, os últimos momentos antes do seu suicídio, e consegue ser poético e verdadeiro, como se cada um de nós de fato estivéssemos lá. Difícil não se emocionar.

O segundo conto, intitulado Dottie, descreve a solidão de uma mulher idosa que vive sozinha com o seu cachorro em um apartamento. Relembrando a beleza e o glamour da vida que teve em sua juventude, e contando apenas com a atenção sincera que o seu cachorro lhe oferece, Dottie é o retrato dos últimos dias da escritora Dorothy Parker.

O conto Ana C. narra os últimos momentos da vida de um homem de cinquenta anos, doente já há algum tempo por conta da AIDS. Em seu quarto, recebendo os cuidados de uma enfermeira que o acompanha, começa a piorar e é necessário ser levado ao hospital em uma ambulância. Os percursos imaginados por várias cidades são fantasiados pelo personagem no trajeto entre a casa e o hospital, como se despedisse dos lugares que não poderá mais visitar. Entre sedativos e cuidados médicos, há o encontro mágico com a amiga e escritora Ana Cristina César, que se suicidou aos trinta anos.

Minet-Chéri é uma homenagem à escritora francesa Colette, que faleceu aos 81 anos de idade e cujo funeral foi realizado com honras de chefe de Estado. Colette teve vários amores ao longo de sua vida e publicou dezenas de livros. No conto, Lunardi ficcionaliza seus últimos momentos de vida.

O conto Clarice, em referência à Clarice Lispector, narra a história de uma adolescente que chega ao Rio para se encontrar com o pai que acaba de conhecer e com o qual não tem nenhuma identificação. Chegando ao Rio, quer visitar o cemitério do Caju, onde está o túmulo da escritora Clarice Lispector, cujos livros tem uma importância tal em sua vida que é como se ela fosse parte da família.

Kass é uma referência à escritora Katherine Mansfield, que morreu aos 34 anos vítima de tuberculose, e narra os útlimos momentos de vida de Katherine, que esperava o marido chegar de uma viagem para finalmente dele poder se despedir.

Victoria foi o pseudônimo usado pela escritora  americana Sylvia Plath para publicar seu livro, A redoma de vidro, semanas antes de se suicidar, em fevereiro de 1963, em Londres. O conto Victoria retrata o impacto que a notícia da morte da poeta Sylvia Plath tem um homem de sessenta anos, cuja esposa também se chama Sylvia. A notícia o faz refletir sobre a perda de comunicação com a esposa ao longo dos anos de casamento, fazendo-o sentir saudade dela.

Flapper é também o nome do estilo de comportamento criado por Zelda Fitzgerald e retratado nas personagens dos romances de seu marido, o escritor F. Scott Ftizgerald. O conto narra os últimos instantes de vida de Zelda antes do incêndio no sanatório em que estava internada.

O conto Sonhadora ficcionaliza a história da escritora paranaense Júlia da Costa, que faleceu em julho de 1911, aos 62 anos, e que passou os últimos anos de vida reclusa, após ter ficado cega. Por meio da escrita poética de Lunardi imaginamos as muitas histórias que Júlia teria escrito se não tivesse perdido a visão e recuperamos a vida de uma autora que tem sido apagada da história literária brasileira.

***

LUNARDI, Adriana. Vésperas. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.


3 comentários:

Henrique Choppin Cardoso disse...

Olá, tudo bem?

Dá para se notar que é um livro muito bom, pois ela tendo Clairce, Virginia na história tudo fica lindo. Amo as duas. Faz certo tempo que estou querendo ler este livro. Desde que vi o Bruno Lazz, do canal Despalavreando falando sobre.

Beijos!

Gilberto Ortega Jr disse...

Será que ela se inspirou no livro da Joyce Carol Oates ? tem um livro desta autora onde ela narra os últimos momentos de vida de grandes escritores americanos, em seus contos.

Anônimo disse...

Oi, Gilberto

Vésperas foi publicado em 2002 no Brasil, e logo em seguida na França, na Argentina e na Croácia. O livro da Carol Oates é posterior. Bem posterior.

A.