sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Águas Turvas

Águas turvas, de Helder Caldeira, é um desses livros que mais parecem roteiro de cinema, dada a simplicidade da narrativa. Permeado de referências musicais, o romance narra a história de Gabriel Campos, um jovem médico que decide ir para os Estados Unidos fazer uma especialização logo após a morte dos pais.

Gabriel teve uma vida solitária vivendo no interior do Brasil com os pais. Logo cedo aprendeu a silenciar seus desejos e sua sexualidade para não ter que enfrentar conflitos, visto que vivemos ainda em uma sociedade preconceituosa, que precisa aprender a aceitar as diferenças. Aos 25 anos Gabriel deixa a fazenda dos pais e começa a estudar medicina, tornando-se um grande médico. As dificuldades por ser homossexual continuam a afetá-lo mesmo na faculdade, onde sofre grande violência por parte de um dos colegas, o que gera em Gabriel um trauma que o manterá sozinho por algum tempo.

Nos Estados Unidos, mais especificamente em Massachusetts, ele se esbarra no aeroporto com o jovem empresário Justin Thompson, herdeiro de uma família abastada de uma pequena cidade da região. O breve encontro no aeroporto é um daqueles momentos que causam grande impressão nos dois, que se apaixonam à primeira vista. Os encontros e desencontros de Gabriel e Justin dão forma a uma bonita história de amor, que fala de traição, relações familiares e adoção e apresenta de forma positiva uma nova configuração de família. Nesse sentido, o romance possibilita uma reflexão interessante sobre preconceito e homofobia, apesar de conter muitos clichês que o tornam mediano e de reconstruir a relação do casal Gabriel e Justin ainda com base no modelo heterossexual. Contudo, o final feliz para a história de amor desse casal abre espaço para uma identificação mais positiva dos homossexuais com uma história de amor bem ao estilo de Hollywood, uma representação que também precisa existir e circular na literatura.

***

"A firmeza do verão, as dúvidas outonais e a solidão do inverno dão lugar a todas as possibilidades de uma primavera. É por isso que o tempo é tão imperioso e impiedoso com cada um de nós quando tomamos uma decisão importante na vida. O tempo - e só ele - é capaz de nos colocar diante daquilo que mais nos assusta ao longo da existência: a liberdade e a responsabilidade de sermos nós mesmos e tomarmos nossas próprias decisões. Decidir é um processo, um percurso, um ciclo. E nunca terá um fim em si mesmo" (p. 19).

CALDEIRA, Helder. Águas turvas. São Paulo: Quatro Cantos, 2014. 269 páginas.

Nenhum comentário: