A clássica história de O médico e
o monstro, que gira basicamente em torno de personagens masculinos, é recontada
a partir da perspectiva feminina em Mary Reilly, da escritora estadunidense Valerie Martin. O romance é
narrado por Mary, a empregada da casa do Dr. Jekyll que, em sua perspectiva
duplamente subalterna, por ser mulher e por ser uma trabalhadora pobre, revela
um novo olhar sobre a famosa história de Robert Louis Stevenson.
Inicialmente conhecemos um pouco
do passado de Mary, cujo corpo carrega cicatrizes de toda a violência que
sofreu do seu próprio pai, um homem que bebia e descontava na filha suas
frustrações. Após muitos incidentes, Mary é levada pela mãe para o hospital e
depois disso as duas fogem do comportamento abusivo do pai, mas as marcas de
toda essa violência ficam para sempre no corpo e na alma de Mary.
Diferente da maioria das mulheres
de sua classe social, Mary aproveita as precárias condições da escola pública
que frequenta, e que mais tarde descobre ser financiada pelo próprio Dr.
Jekyll, e consegue aprender a ler e a escrever. Enquanto trabalha na casa do
Dr. Jekyll, o fascínio pelos livros fica claro quando está limpando a
biblioteca do patrão, algo que ele observa e valoriza, incentivando-a a
escrever a história daquelas cicatrizes para ele. Após registrar a história que
o patrão solicitou, Mary começa a escrever uma espécie de diário e vê na sua
escrita uma forma de deixar a sua história para o mundo, uma forma de não ser
esquecida, pois, ciente da invisibilidade de sua condição, por ser mulher e por
ser uma simples criada, ela sabe que sua visão da história não será ouvida. A
escrita é, portanto, uma forma de empoderamento.
O dilema do médico e do monstro é
recontado através da narrativa envolvente de nossa narradora que, a cada dia,
vai desvendando o segredo que o Dr. Jekyll esconde de todos, mas que não
consegue ocultar de Mary. Uma leitura interessante principalmente para quem já leu O médico e o monstro.
*O romance foi adaptado para o cinema em 1996 por Stephen Frears e tem Julia Roberts no papel de Mary Reilly.
*O romance foi adaptado para o cinema em 1996 por Stephen Frears e tem Julia Roberts no papel de Mary Reilly.
Um comentário:
Que ideia maravilhosa contar a história pela perspectiva da empregada! Quero pra ontem! :)
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