quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Mary Reilly


A clássica história de O médico e o monstro, que gira basicamente em torno de personagens masculinos, é recontada a partir da perspectiva feminina em Mary Reilly, da escritora estadunidense Valerie Martin. O romance é narrado por Mary, a empregada da casa do Dr. Jekyll que, em sua perspectiva duplamente subalterna, por ser mulher e por ser uma trabalhadora pobre, revela um novo olhar sobre a famosa história de Robert Louis Stevenson.
Inicialmente conhecemos um pouco do passado de Mary, cujo corpo carrega cicatrizes de toda a violência que sofreu do seu próprio pai, um homem que bebia e descontava na filha suas frustrações. Após muitos incidentes, Mary é levada pela mãe para o hospital e depois disso as duas fogem do comportamento abusivo do pai, mas as marcas de toda essa violência ficam para sempre no corpo e na alma de Mary.
Diferente da maioria das mulheres de sua classe social, Mary aproveita as precárias condições da escola pública que frequenta, e que mais tarde descobre ser financiada pelo próprio Dr. Jekyll, e consegue aprender a ler e a escrever. Enquanto trabalha na casa do Dr. Jekyll, o fascínio pelos livros fica claro quando está limpando a biblioteca do patrão, algo que ele observa e valoriza, incentivando-a a escrever a história daquelas cicatrizes para ele. Após registrar a história que o patrão solicitou, Mary começa a escrever uma espécie de diário e vê na sua escrita uma forma de deixar a sua história para o mundo, uma forma de não ser esquecida, pois, ciente da invisibilidade de sua condição, por ser mulher e por ser uma simples criada, ela sabe que sua visão da história não será ouvida. A escrita é, portanto, uma forma de empoderamento. 
O dilema do médico e do monstro é recontado através da narrativa envolvente de nossa narradora que, a cada dia, vai desvendando o segredo que o Dr. Jekyll esconde de todos, mas que não consegue ocultar de Mary. Uma leitura interessante principalmente para quem já leu O médico e o monstro.

*O romance foi adaptado para o cinema em 1996 por Stephen Frears e tem Julia Roberts no papel de Mary Reilly.

Um comentário:

Michelle disse...

Que ideia maravilhosa contar a história pela perspectiva da empregada! Quero pra ontem! :)