domingo, 12 de março de 2017

As mãos de meu pai

Imagem: Gayle George
As mãos de meu pai 
(Mário Quintana)


As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
— como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da
nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa
beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos
braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
contra o vento?
Ah! como os fizeste arder, fulgir, com o milagre
das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos
nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria
vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.

2 comentários:

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá.
Esse poema, As mãos de meu pai, de Mario Quintana, é lidíssima.
Um abraço.
Pedro

Conversa de Livro disse...

Que lindo, Paula! Faz um bom tempo que não venho por aqui...Só coisas lindas!
Quintana é puro amor, meu poetinha de criança. Beijos!