Inusitado. Irreverente. Inovador. São muitos os adjetivos que eu poderia usar para falar desse livro. Mas vou usar o que me fez ficar acordada até tarde para terminar de lê-lo de uma vez só, tão curiosa que eu estava para saber como é que uma história assim ia acabar: divertidíssimo.
É importante começar dizendo que nesse caso o que surgiu primeiro foi o filme e não o livro, como de costume. Como assim? O cineasta Marcelo Laffite, depois de filmar Elvis e Madona, escreveu para o Luiz Biajoni e perguntou: será que essa história não cabe num livro?Não é que deu certo?. Ainda não vi o filme, pois foi o livro que me encontrou primeiro; pelo que li, acho que não tem como se decepcionar; pretendo assistir em breve e tentar imaginar enquanto eu estiver assistindo que o filme é que é o "original", experiência única e sem dúvida também muito interessante. Se você já viu o filme, não deixe de ler o livro, porque são sempre duas viagens bem diferentes.
Elvis e Madona (uma novela lilás) conta uma história de amor improvável, narrada com muito humor para tratar de sexualidade e dos papéis de gênero a que estamos habituados: Elvis é uma mulher de 30 anos que sempre gostou de mulheres até o dia em que conheceu Madona (que na verdade é Adaílson), que sempre gostou de homens e há anos é um dos travestis mais famosos de Copacabana. Os dois sempre sofreram todo tipo de preconceito por não se encaixarem nos papéis clássicos que a sociedade espera de uma mulher e de um homem. Por conta disso, ambos deixaram sua cidade natal, para fugir dos olhares de estranhamento e preconceito que já estavam afetando até mesmo suas famílias, e se mudam para o Rio de Janeiro, vão viver em Copacabana. Copacabana que aparece aqui como um lugar visto por alguns como sinônimo de decadência e degradação, mas que é onde os personagens dessa história se reinventam e encontram pessoas boas, que trabalham para sobreviver e que sempre estão dispostas a se ajudar. Mas há também o lado triste da violência, do tráfico de drogas, da corrupção, numa aceitação de uma falta de esperança nessa realidade perdida que já não se pode mudar.
A forma como o autor compõe os personagens, abordando a questão da sexualidade de forma direta e sem rodeios, falando de suas angústias e seus conflitos para assumir o que são, e para serem o que querem ser, é o que os torna extremamente humanos. Os sentimentos e os sonhos desses personagens nos fazem rever durante toda a leitura nossos conceitos e preconceitos. E contando essa história de amor inusitada entre uma lésbica e um travesti o autor faz os próprios personagens repensarem seus dogmas e seu papel no universo que construíram para si. Também os fazem repensar como compreendem o amor, fugindo de todos os clichês possíveis.
Um livro recomendado não só para quem se interessa por questões de gênero, sexualidade e identidade, mas para todos que gostam de uma história de amor divertida e diferente.
BIAJONI, Luiz. Elvis e Madona - uma novela lilás. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010. Baseado no filme homônimo de Marcelo Laffite.
2 comentários:
Eu assisti o filme, depois li o livro e vou reassistir o filme. É muito legal o modo como Luiz descreveu os personagens, sem rodeios e sem pudores. Sensacional o livro!!!
Ainda não vi o filme, mas é assim que imagino: irreverente e direto. Minha vontade de ver só aumentou ;)
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