"Às vezes a ausência do meu pai pesa tanto quanto uma criança sentada no meu peito".
Anatomia de um desaparecimento conta a história de Nuri, um menino de 13 anos que perde sua mãe muito cedo e que, pouco tempo depois, tem que se acostumar com a presença de Mona, a nova esposa de sua pai. Mona é muito mais jovem que o pai de Nuri e acho que podemos dizer que ela foi o primeiro amor desse menino, que tinha por ela uma espécie de encantamento platônico antes mesmo dela se relacionar com seu pai. Esse encantamento era bastante incentivado pela madrasta, que desde o início mostra ser uma incógnita em relação aos seus sentimentos.
As descrições desse garoto sobre o objeto de sua paixão são bastante líricas, e o texto de Hisham Matar é de modo geral bem delicado e melancólico na forma de narrar os relacionamentos descritos: de Nuri com sua mãe; com Naima, a criada que cuida dele como se fosse um filho; com seu pai, que sempre foi muito distante mesmo quando estava em casa; e de Nuri com sua madastra. Há uma delicadeza no texto que foi muito bem reconstruída na tradução de Julian Fuks.
Depois de algum tempo, o pai de Nuri desaparece misteriosamente no que parece ser um sequestro motivado por razões políticas. Kamal tem uma aura de mistério desde o início do livro, o que faz com que Nuri o veja com admiração, mas também com certo distanciamento, um sentimento de nunca o ter conhecido ou compreendido por completo. Com o desaparecimento do pai, a vida de todos os personagens muda significativamente e todo o restante da história passa a ser a busca de um filho por si mesmo, por seu lugar no mundo sem o pai, tentando lidar com a perda, com a ausência de quem ele amava e com os muitos segredos que aos poucos o tempo vai revelando.
Um romance/ fábula sobre a perda e sobre como a ausência de alguém que amamos pode moldar nossas vidas para sempre.
Hisham Matar. Anatomia de um desaparecimento. São Paulo: Record, 2012. 220 páginas. Tradução: Julian Fuks.
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