Sempre achei que
relembrar a infância é um ato de coragem. Abrir um espaço na página em branco para falar
de memórias e de nosso olhar sobre a vida é como desnudar o coração de todas as
máscaras da vida adulta. Sempre gostei desses livros em que os escritores
voltam às memórias de sua infância, sejam ela reais ou fictícias, por meio da
voz de um dos personagens, como é o caso de Sumchi, este pequeno e doce livro
do já saudoso Amós Oz. Nesta fábula de amor e aventura, Sumchi, um garoto de 11
anos de idade, nos transporta para as ruas de Jerusalém para narrar as aventuras
pelo bairro, as provocações dos outros meninos da vizinhança, a emoção de ter ganhado uma bicicleta de presente, sua relação com um tio que o incentivava a sonhar e o amor, o primeiro
amor, dele por Esti, uma colega de escola. O entusiasmo pela vida e pela
capacidade de imaginar e sonhar está presente em cada página deste pequeno
livrinho, que nos enternece por nos lembrar da infância, quiçá de nós mesmos, nessa época
onde os sonhos talvez estivessem ainda mais vivos e sem medo de existir. O único porém é que, por ser uma fábula, acaba rápido demais, deixando um gosto de quero mais.
OZ, Amós. Sumchi: uma fábula de amor e aventura.
Trad. Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das letras, 2019.
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