sexta-feira, 24 de maio de 2019

A máquina do poeta




Em um momento difícil da vida do poeta Carlos Drummond de Andrade, Drummond escreveu em carta ao também escritor Mário de Andrade que “era grato à literatura por tê-los aproximado”. Drummond, que estava em um momento de crise em sua vida, achando que não iria mais escrever por estar infeliz trabalhando como professor no interior de Minas Gerais, recebe do amigo Mário aquela dose de ânimo e de incentivo que fazem toda a diferença, afinal, depois dessa fase Drummond passou a escrever e publicar seus poemas, contos e crônicas até o final de sua vida. 

Neste pequeno livro, ilustrado e escrito por Nelson Cruz, registra-se este momento de dúvida em tempos difíceis (mais atual impossível) em que a amizade, nascida do amor aos livros, é o que faz a vida seguir em frente.


A amizade entre os dois escritores, compartilhada durante anos por meio de cartas, é algo que acontece com frequência entre escritores, mas também ocorre entre leitores. Este infanto-juvenil do Nelson Cruz chegou até mim no momento mais certo, como costuma acontecer com os livros lindos de minha vida. O momento é tão incerto quanto o que Drummond vivia, e o livro chegou junto com um abraço de um amigo encontrado também por conta do amor pelos livros e pelas palavras, que finalmente eu tive a chance de abraçar pessoalmente, recebendo uma dose grande de carinho e incentivo para continuar, apesar de. Obrigada, Bruno Leite, amigo querido, pela amizade de sempre e por este presente. Como disse Mário de Andrade a Drummond: “Escrevo mesmo só para lembrar você de que existo. Em amizade eu sou assim”. Somos. Um brinde à amizade, que nos abraça quando precisamos de força para acreditar na vida.

CRUZ, Nelson. A máquina do poeta. São Paulo: Edições SM, 2015.

Nenhum comentário: