The autobiography of my mother (A autobiografia de minha mãe) é um romance narrado em primeira pessoa e ambientado na Dominica. Carrega, em cada página, a escrita cheia de lirismo e força da Jamaica kincaid, que explora em vários dos seus romances o relacionamento mãe-filha. Diferente do romance Lucy, aqui sabemos desde a primeira linha que quem narra a história é uma menina cuja mãe morreu durante o parto e esse acontecimento, como uma sombra, paira sobre a personagem até o fim, como um destino.
"My mother died at the moment I was born, and so for my whole life there was nothing standing between myself and eternity; at my back was always a bleak, black wind."
Assim como Lucy, é um
romance de formação que descreve a vida dolorosa e sofrida da narradora desde a
infância até a velhice. Tudo é narrado pelos olhos de Xuela Claudette
Richardson, nome que só nos é informado no final e que representa o peso da
herança colonial. É como se Xuela simbolicamente representasse o sofrimento de
todos os colonizados. E o que temos é a sua própria autobiografia, uma vez que sua vida e tudo o que se passa ao seu redor, é a sua própria vida.
"The word “love” was spoken with such frequency that it became a clue to my seven-year-old heart and my seven-year-old mind that this thing did not exist"
A infância sem amor, a
escola do colonizador que buscava acima de tudo o apagamento de uma cultura e
de uma história, as humilhações, a descoberta da sexualidade sem nenhum
sentimento, e a própria decisão da personagem de não ter os filhos que gerou demonstra uma visão da história sob a perspectiva de uma mulher caribenha. Há também a ambígua
relação com o pai, que para Xuela era um desconhecido e só com o tempo passa a ser compreendido por sua ganância e subjugamento a tudo o que dizia respeito ao colonizador. A madrasta e a irmã, que não gostavam de Xuela, são exemplos da condição subalterna das mulheres, que ainda viviam para o casamento e que eram subjugadas por não serem homens, o que fica evidente na forma como a madrasta trata o irmão e a irmã, favorecendo sempre o homem, que lhe asseguraria o futuro como herdeiro da família. Todos esses acontecimentos retratam a vida de repleta de perdas e de solidão da protagonista. Seu ressentimento, que pode
ser sentido não apenas nas descrições muito sensoriais usadas no texto,
desenvolve em Xuela um amor-próprio que sentimos não ser verdadeiro, não nos convence inteiramente, mas que percebemos ser a forma que ela encontra para sobreviver.
"She died. I married her husband, but this is not to say that I took her place."
The autobiography of my mother é um livro sobre perda, solidão, falta de amor, relações familiares e muitos outros assuntos. É um romance que aborda a condição das mulheres no Caribe e nesses momentos percebemos ainda mais a força dessa personagem, que é muito complexa. Kincaid retrata muito bem a perspectiva do colonizado, a partir do ponto de vista feminino, o que sem dúvida traz para o texto algo que o enriquece e que desperta muitas reflexões. Uma leitura que vale muito a pena.
"She was fierce; she had been born feeling that her brightright was already spoken for. She thought I was the person who might take it away from her. I could not. I was not a man."KINCAID, Jamaica. The autobiography of my mother. New York: Farrar, Straus & Giroux, 1996. 228 p.
"The present is always perfect. No matter how happy I had been in the past I do not long for it. The present is always the moment for which I live. The future I never long for, it will come or it will not; one day it will not. But it does not loom up before me, I am never in a state of anticipation. The future is not even like the black space above the sky, with an intermittent spark of light; it is more like a room with no ceiling or floor or walls, it is the present that gives it such a shape, it is the present that encloses it. The past is a room full of baggage and rubbish and sometimes things that are of use, but if they are of real use, I have kept them."
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