"Procura-se alguém que saiba turco" - é o que diz o anúncio no jornal encontrado pela jovem turca Pelin, que atualmente mora em uma metrópole europeia. Com problemas familiares e precisando de dinheiro, ela vai ao encontro da senhora Rosella Galante, uma senhora idosa que há sessenta anos aprendeu turco quando, fugindo do Holocausto, procurou abrigo em Istambul. É em turco, portanto, que estão as suas lembranças, aquelas que Rosella quer a todo custo não esquecer.
O que era um simples trabalho de conversar em turco por duas horas a cada semana acaba se transformando em uma grande amizade. Os arroubos juvenis de Pelin encontram pouso na sabedoria de uma vida bem vivida como a de Rosella. Rosella que em sua solidão acaba por ter pela jovem um carinho que se tem por uma filha. De forma singela, a língua é descrita aqui como o elo capaz de unir as pessoas, acima do tempo e das circunstâncias. A amizade bonita que surge entre as duas mulheres, com vivências e idades tão diferentes, é a prova disso.
As estórias de Rosella, que vivenciou o horror da guerra e a perseguição aos judeus, aproximam o leitor de uma parte da história que provocou grande destruição e sofrimento. Rosella fala de paixões, da dor de se separar daqueles que amamos, dos recomeços que são os reencontros e das lembranças mais ternas que silenciamos, mas nunca esquecemos. Fazendo o possível para não esquecer a língua turca que nutre as suas lembranças, ao contar as suas histórias Rosella consegue que a jovem Pelin, que não gosta nada de falar sobre seus sentimentos, comece a se abrir e a narrar também as suas dores. Sofrendo ainda por ter sido abandonada pela mãe quando criança, no momento da separação de seus pais, é através das histórias de Rosella sobre sua vida e sua própria filha que ela encontra um consolo, ou uma nova perspectiva diante do que ocorreu: "Antes de julgar alguém, deve-se ouvir suas preces. Somente assim se pode conhecer alguém verdadeiramente." (p. 78)
Uma narrativa simples e delicada, escrita de forma singela, que consegue nos aproximar dessas duas personagens tão humanas nos sentimentos que compartilham conosco. O que chamou minha atenção na livraria foi justamente o título, que achei lindo e que resume muito dessa história: "mesmo que os deuses sejam diferentes, as preces são imutáveis".
O romance foi publicado no Brasil pela Sá Editora e é o primeiro livro de literatura turca moderna que ganha versão direta do turco para o português, com tradução de Marco Syrayama de Pinto. O escritor Tuna Kiremitçi nasceu na Turquia em 1973. Reconhecido em seu país como uma das grandes vozes da nova literatura turca, já publicou quatro romances e dois livros de poesia.
KIREMITÇI, Tuna. As preces são imutáveis. Barueri: Sá Editora, 2010.
2 comentários:
Preciso dizer que já preciso dele?! rs
Xerinhos, lindeza!
Li a sinopse desse livro outro dia e não resisti: pedi em uma troca. Gosto muito de histórias de personagens que parecem ter pouco ou nada em comum, mas que acabam criando um forte elo. Adorei ver resenha desse livro por aqui :)
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