terça-feira, 29 de julho de 2014

Inês Pedrosa

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"Os livros contraem-se assim irremediavelmente, tragicamente. Não importa por onde comece a contaminação; há um cheiro, um restolhar de papel, e depois a gulodice alastra. Começa-se a ler muito antes de se saber localizar literaturas, nomes, géneros, e há nesse estrebuchar inicial qualquer coisa de sublime que definitivamente se perde quando crescemos e aprendemos a seleccionar o bom e o mau. Lembro-me de vaguear inebriada pelas pratelerias das livrarias, folheando as prateleiras de baixo à procura do livro que eu queria e não sabia qual era, revoltada com a ideia de que talvez o tal livro estivesse nas prateleiras de cima. Lembro-me dos dias em que um título, uma frase, me faziam trazer para casa ratoeiras onde os dedos se entalavam e os olhos esmoreciam.
Lembro-me de contar os dias que faltavam para a próxima mesada, jurando a mim mesma que desta vez não me precipitaria. Lembro-me, sobretudo, daquela rapariga de dezoito anos que nunca mais  voltei a ver".

Inês Pedrosa, A Instrução dos Amantes, pág. 102-103.
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3 comentários:

K. disse...

Que vontade de ler esse livro! Li recentemente Fazes-me falta, que gostei bastante. Gosto muito das tuas indicações! :)

Eduarda Sampaio disse...

^_^

Pipa disse...

Acho que você vai gostar, K! Eu gosto muito dos livros da Inês!

Duda, :)