Quando encontro um livro, sempre gosto de abri-lo para olhar a dedicatória. Acho que isso diz muito sobre o autor e às vezes revela algo bem mais pessoal que o próprio texto. As epígrafes são interessantes, tenho mania de anotar aquelas que chamam minha atenção, mas é a dedicatória que me leva um pouco mais para perto do autor. Dedicar a alguém um trabalho que nos tomou tanto tempo, que contém tanto de nós e do nosso esforço é sem dúvida uma prova de amor. Uma homenagem a que nos é importante. Seja em um trabalho acadêmico, seja nos romances da literatura universal, as dedicatórias contam histórias e eu sempre lamento quando abro um livro de um escritor de quem gosto e não há dedicatória para ninguém.
Algumas dedicatórias surpreendem, e as mais bonitas foram feitas por grandes teóricos, nem sempre por grandes romancistas e poetas.
Uma das minhas favoritas foi escrita por Lawrence Venuti, um dos principais teóricos da tradução, no livro Escândalos da Tradução (The Scandals of Translation - towards an ethics of difference). Venuti dedicou o livro, um dos mais importantes na teoria da tradução, à Gemma Leigh Venuti, sua esposa, em italiano e em Japonês:
André Gorz, jornalista austríaco radicado na França, reconhecido mundialmente por seus trabalhos nas áreas da filosofia e sociologia, dedicou seu livro "Metamorfoses do Trabalho", assim como todos os outros que escreveu durante sua carreira, à sua esposa Dorine, sua companheira por quase 60 anos:
Gorz surpreendeu o mundo quando escreveu o livro "Carta a D., história de um amor", publicado no Brasil pela Cosac Naify, uma pungente declaração de amor a Dorine. Dirigindo-se à mulher doente, Gorz relata a história da paixão, cumplicidade e militância (com propostas inovadoras no setor trabalhista e uma atuação pioneira em ecologia política) que os uniu para sempre desde que se conheceram em Lausanne, na Suíça, em outubro de 1947. Com o agravamento irremediável da doença de Dorine, os dois se suicidaram e seus corpos foram encontrados lado a lado em 24 de setembro de 2007.
Um dos meus livros favoritos, Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, do escritor Jonathan Safran Foer, tem uma das dedicatórias mais lindas, que encanta pela simplicidade e que faz todo o sentido para quem leu o livro. Ele foi dedicado à Nicole Krauss, também escritora e esposa de Foer:
Impossível falar de dedicatórias sem mencionar o escritor José Saramago, que com poesia e simplicidade fez as dedicatórias mais bonitas em vários dos seus livros para Pilar Del Rio: "A Pilar, como quem diz água"; "Para Pilar, minha casa"; "A Pilar, que não deixou que eu morresse":
No livro Morder-te o coração, a escritora portuguesa Patrícia Reis resume tudo em uma frase simples e apaixonada como esse livro, que eu muito recomendo.
Há ainda os que chamam a atenção por lembrar daqueles que quase sempre são esquecidos, apesar de possibilitar o nosso acesso a tantas obras de diversos países cujo idioma não dominamos. É o caso do escritor uruguaio Mario Benedetti, que dedicou seu livro A Borra do Café aos seus tradutores:
A escritora brasileira Andrea Del Fuego dedicou seu livro Os Malaquias, vencedor do Prêmio José Saramago em 2011, aos personagens da história. Segundo a autora, o livro foi inspirado em uma história de família, talvez por isso a homenagem:
E há livros que são inteiramente uma homenagem. Em Morreste-me, José Luís Peixoto dedica o livro inteiro ao seu pai, em uma declaração de amor e de saudade que emociona até os corações menos sensíveis. É o único livro do José Luís que tem dedicatória, o que só demonstra a importância desse gesto.
E vocês, tem alguma dedicatória bonita para compartilhar comigo? :)
Um comentário:
Eu adoro dedicatórias também. Tanto as dos autores como as que vem como um presente para a gente quando se ganha um livro.
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