segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Tudo o que eu queria lhe dizer

Recebi uma fotografia e ela tinha que resultar em um texto. Exercício de escrita e imaginação. A fotografia colorida mostrava um casal jovem, abraçados, como se dançassem ou pulassem juntos, sorrindo. Estão no meio de uma praça onde se vê ao fundo muitas árvores, muito verde, algumas pessoas. Há uma fonte ou chafariz no centro da praça.

E o texto foi esse aqui:

Não tinha me dado conta de que o passado tinha ficado para trás, guardado em algum cantinho do coração. Será que eu também te esqueci? Abro uma pasta antiga, da qual já nem mais lembrava, e vejo você. E o seu sorriso gritando a nossa alegria. Aquele dia, lembra? Quando a gente era tão feliz sem saber. Aquela música que você gosta começou a tocar no rádio da loja da esquina, tão alto que a gente começou a rir. E você disse que queria dançar. Aqui no meio da praça? Tem certeza? E você disse que sim. Que queria dançar o nosso amor para o mundo inteiro ver. E eu te puxei para perto de mim e a gente dançou até depois da música acabar. Como pude esquecer esse dia?

Esse jeito tão seu foi o que me conquistou. Tinha um brilho no olhar e uma vontade tão grande de viver. Tinha pressa. Você dizia que eu era um bobo, me chamava de careta. Sempre pensei demais, Júlia, enquanto você dizia e fazia tudo sem pensar. Juntos, éramos completos.

Olho para trás e vejo esse céu azul que você amava, e me perco olhando esse azul dos seus olhos cansados ainda hoje. Eles dizem que você não se lembra, que eu preciso ter paciência. Ter paciência, Antônio, digo para mim. Faz parte da vida aceitar as coisas que não podemos mudar. Vejo seu olhar perdido nesse céu azul, e quero tanto saber o que você pensa nesse silêncio sem tamanho.

Trouxe comigo essa foto do nosso amor, que não envelhece, não no meu peito. Coloquei a fotografia no seu colo, depois de beijar seu rosto e sorrir para você. Eles dizem que você não se lembra de mim e isso vai me matando aos poucos. Como você pôde me esquecer assim?

Você pega a fotografia com ternura, seus dedos sobre o meu rosto jovem um carinho. E a gente se olha nos olhos e, por alguns instantes, eu vejo o mesmo brilho de antes nos seus. E você sorri pra mim.


Um comentário:

mm amarelo disse...

Que bonito, Pipa. Tenho curiosidade de participar de oficina de escrita criativa, deve ser uma troca intensa. Fiquei imaginando a leitura desse texto num grupo...
beijo grande,
Maira