segunda-feira, 29 de março de 2010

Despedidas

"O mundo tinha aquele cheiro da terra depois de chover e também o terrível cheiro das despedidas. Não gosto de despedidas porque elas têm esse cheiro de amizades que se transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas. Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas mujimbeiros que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança.

Desci. Sentei-me perto, muito perto da Avó Agnette.
Ficámos a olhar o verde do jardim, as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas. O recomeçar das coisas.

- Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.
- Vão para casa, filho.
- Tantas vezes de um lado para o outro?
- Uma casa está em muitos lugares - ela respirou devagar, me abraçou. - É uma coisa que se encontra."

Ondjaki. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua geral, 2007. pág. 146

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É um livro que recomendo para leitores de todas as idades. Porque vale a pena relembrar e reviver essa época de olhos miúdos que brilhavam de esperança, mesmo que seja por alguns instantes.

"Antigamente as pessoas eram pessoas de chegar. Não sabíamos fazer despedidas". [pág. 137]

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