segunda-feira, 1 de abril de 2019

Quatro velhos




Romances que exploram a velhice são raros na literatura brasileira. Os que conseguem tratar do assunto com delicadeza e sensibilidade, ainda mais raros. Foi exatamente isso que encontrei ao ler, de uma sentada só, o novo romance de Luiz Biajoni, Quatro velhos (2018), publicado pela editora Penalux. Biajoni, também autor de Elvis e Madona, que já apareceu aqui no blog e do qual também gosto muito, parece ter escrito seu melhor romance até o momento. Seu eu já tinha elogiado bastante Elvis e Madona, com o romance Quatro velhos digamos que foi um amor diferente.

O romance narra a história de um casal de velhos aposentados no interior de São Paulo, Lando e Ciça, que vivem uma vida pacata e já sem muitas novidades até que um dia outro casal, Ronald e Guinevere, mudam-se para a casa ao lado e surge entre eles uma grande amizade que ultrapassam as saudações vazias entre vizinhos tão comuns nos dias de hoje. As diferenças entre eles são muitas: enquanto o primeiro casal pertence à classe trabalhadora, e sempre viveu uma vida sem luxo e viagens, o segundo casal tinha uma condição financeira privilegiada e viajou o mundo, tendo vivido em Paris por um bom tempo. Após perder toda a fortuna por problemas na empresa de que eram proprietários, Ronnie e Never, como assim eram chamados, decidem recomeçar uma vida simples, procurando de fato viver e aproveitar o tempo de vida que ainda tem.

Lembranças, sonhos e um balanço de uma vida ocorrem na vida de todos os quatro velhos, que acabam por redescobrir juntos a importância das coisas simples da vida, reavaliando já na idade madura aquilo que de fato tem valor quando tudo mais se vai. Enquanto pode-se pensar que um romance sobre a maturidade, que trate de morte e perda, do envelhecimento do corpo físico, de luto e amizade, seja uma história triste, Luiz Biajoni nos mostra que não. Quatro velhos é um livro bonito e enternecedor sobre a vida e o que fazemos dela - certamente sobre o que levamos dela de fato. É um  romance que nos emociona e faz sorrir diante do inesperado que existe nas coisas cotidianas, como comer uma costelinha ou abrir um bom vinho pelo simples prazer de uma companhia. É um romance também musical, cheio de referências a canções belíssimas (que na minha edição vieram em um CD, afinal é um livro sobre uma galera old school, certo? Mas você pode ouvir as músicas aqui nesta playlist também). Afinal, as melhores histórias têm trilha sonora. E para mim as melhores histórias são as mais simples, as que falam do que há de bonito na vida que, às vezes, pela pressa ou por tanto trabalho, esquecemos de apreciar. Recomendo para novos e velhos, de todas as idades. 

Para ler uma amostra, clique aqui.

BIAJONI, Luiz. Quatro velhos. Guaratinguetá: Editora Penalux, 2018.

*Recebi este livro como cortesia do autor. 

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