quarta-feira, 30 de maio de 2018

Álbum, de Ana Elisa Ribeiro

PRENHEZ                   

estava grávida
naquela foto

o filho
não chegou
a nascer

a foto
nos mantém
à sua espera



POEMA IMPRESSO NA HORA

escrever um poema
não é como
pegar peixe com as mãos; caçar com flecha;
riscar fósforo; rezar o terço; alcançar a graça;
dizer adeus; ou capturar borboleta.

Também não é como
a dor do parto; fotografar pessoas paisagens
ambos; ver estrela cadente; catar feijão;
descrever sentimento.

Escrever o poema
se parece com
carregar água na peneira
e dar nó em pingo d'água:
lugares muito mais comuns.

***
Ana Elisa Ribeiro, 1975, é mineira de Belo Horizonte. Além de vários livros de poesia publicados, tem outros de crônica, conto e infantojuvenis publicados por diversas editoras brasileiras. Participou de antologias, revistas e jornais no Brasil, em Portugal, na França, no México, na Colômbia e nos Estados Unidos. É doutora em Linguística Aplicada pela UFMG, professora e pesquisadora de Edição no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.

RIBEIRO, Ana Elisa. Álbum. Belo Horizonte: Relicário, 2018.

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