quinta-feira, 17 de abril de 2014

Adeus, Gabo

Há pouco mais de um mês escrevi sobre ele aqui. Ele, que completava 87 anos e já apresentava sinais de cansaço. Era uma tristeza saber que já não escrevia. E para quem nasceu para escrever e inventar os mundos mais incríveis da literatura, viver sem escrever já deve ter sido uma das muitas mortes que enfrentamos no coração antes de realmente poder partir. Nas semanas seguintes, leitores do mundo inteiro falaram do seu amor por ele em todas as redes sociais. De repente, o espanhol virou a nossa língua do coração para dizermos, todos juntos, feito uma prece: ”Fuerza Gabo”.

O dia hoje terminou cheio de uma tristeza silenciosa, porque as despedidas são sempre tristes, é inevitável. Eu lamento sempre que os bons partam primeiro. E quando eu soube da notícia, que Gabo “se fue”, creio ter visto mesmo uma revoada de borboletas amarelas na minha janela. Chorei como quem chora ao perder um amigo. E perdi. Assim como muitos leitores mundo afora. Logo depois veio a chuva, como acredito também ter acontecido em Macondo. Talvez chova lá por dias. Há quem diga que choverá para sempre na cidade inventada por Gabo, um lugar mágico que nos foi permitido conhecer. Temos uma imensa sorte por isso. Mas eu prefiro acreditar que cada vez que um leitor abrir um de seus livros, que alguém ler uma de suas mágicas histórias, histórias que fizeram tantas pessoas se apaixonarem pela literatura, se olharmos com olhos de quem sabe ver, veremos uma chuva de flores amarelas iluminar Macondo outra vez. A morte não é o fim, leitores, é só o começo de mais uma história. E com tantas histórias incríveis, não se enganem: há tempos que Gabo já é eterno. E permanecerá assim.



Gabriel García Marquez (06-03-1927 / 17-04-2014)

"A vida não é a que a gente viveu, e sim
 a que a gente recorda, e como recorda
 para contá-la"

"Então entraram no quarto de José Arcadio Buendía, sacudiram-no com todas as suas forças, gritaram-lhe aos ouvidos, puseram-lhe um espelho em frente das narinas, mas não conseguiram acordá-lo. Pouco depois, quando o carpinteiro lhe tirava as medidas para o caixão, viram, através da janela, que caía uma chuva de minúsculas flores amarelas. Caíram durante toda a noite sobre a aldeia numa tormenta silenciosa e cobriram os telhados e bloquearam as portas e sufocaram os animais que dormiam à intempérie. Tantas flores caíram do céu que as ruas amanheceram atapetadas por uma colcha compacta e tiveram de varrê-las com pás e ancinhos para que o funeral pudesse passar." Gabriel García Marquéz, in Cem Anos de Solidão.

2 comentários:

Pipa disse...

:o)

Anônimo disse...

Lindíssima homenagem!
Adeus, Gabo!