terça-feira, 22 de setembro de 2015

Cadeia: relatos sobre mulheres



"As mulheres do presídio são muito parecidas entre si - pobres; pretas ou pardas; pouco escolarizadas; dependentes de drogas, cujo crime é uma experiência da economia familiar"

"Cadeia: relatos sobre mulheres" é uma espécie de caderno de campo, no qual a pesquisadora e antropóloga Debora Diniz anotou as histórias que ouviu de mulheres, prisioneiras temidas, durante os seis meses em que visitou a penitenciária feminina do Distrito Federal.

Pesquisadora premiada e reconhecida por sua produção acadêmica, Debora Diniz compartilha com o leitor esse caderno de anotações que foi seu companheiro de reflexões sensíveis, fruto de observação silenciosa diante do que ouviu e viu nesses meses em visita ao presídio. O texto, no entanto, foi escrito de uma forma mais leve se comparado ao hermetismo que muitas vezes habita o texto acadêmico. Com textos curtos, sensíveis, a pesquisadora consegue aproximar o leitor das histórias dessas mulheres, sempre sofridas, que lemos nesse caderno. A leitura flui com facilidade, apesar de tratar de uma temática por vezes dura, e de um espaço marginal em nossa sociedade: um espaço feminino, pobre, negro, presidiário, nordestino. 

É através do olhar de Debora Diniz que podemos atravessar os muros que cercam a penitenciária feminina, carregados por um texto que mistura reportagem e denúncia, e que fala do abandono dessas mulheres, dando voz a suas histórias, histórias que provavelmente nunca ouviríamos sem esse livro; histórias que revelam todo o sistema de exclusão que as envolve, dentro e fora das penitenciárias brasileiras. Apesar de ser um livro que nos convida a pensar no Outro (ou melhor, nas Outras) e que, diante do respeito com que suas histórias foram contadas, tenta nos ensinar a não julgar, eu fico aqui pensando se isso é mesmo possível, principalmente porque uma narrativa, por mais que trate o seu objeto com todo o respeito como vemos no livro, é sempre uma narrativa: o ponto de vista de alguém sobre o outro. Mesmo que o lugar de fala da autora seja marcado no livro e dentro do próprio presídio, ao usar a mesma cor preta da vestimenta dos policiais que fazem a segurança para deixar claro para as detentas que ela não faz parte da turma do "jaleco branco" (as médicas que estão ali para cuidar), a própria seleção de quais histórias seriam contadas já revela muito sobre o olhar de quem escreve. De forma semelhante, nós, leitores, também vamos nos emocionar de maneiras diferentes com cada uma das vidas que ali nos são apresentadas. Mas vale a reflexão sobre o "não julgar" e, mais ainda, vale a leitura desse caderno de vidas quase esquecidas.

***

Debora Diniz é antropóloga e pesquisadora premiada, professora da Faculdade de Direito na Universidade de Brasília, além de militante de causas como a descriminalização do aborto e os direitos reprodutivos das mulheres. É autora de livros e artigos sobre temas diversos, que refletem e impulsionam debates e lutas pela garantia dos direitos humanos no Brasil.



4 comentários:

Gilberto Ortega Jr disse...

A resenha ficou muto interessante, já o vídeo da autora não achei muito "útil" afinal ela se fala do método e não dos resultados ( ao menos no vídeo)

Pipa disse...

Tem outros vídeos sobre o livro nesse mesmo canal, Gilberto. Escolhi o que me interessou mais ;)

Maira disse...

Também fiquei com essa mesma impressão sobre o método de não perguntar...mas acho que, no fim, é sempre isso, é sempre o olhar do pesquisador. Gostei do vídeo dela, não conhecia o canal, nem o movimento.
beijo, Paula.

Maira disse...

Também fiquei com essa mesma impressão sobre o método de não perguntar...mas acho que, no fim, é sempre isso, é sempre o olhar do pesquisador. Gostei do vídeo dela, não conhecia o canal, nem o movimento.
beijo, Paula.