Na ilha por vezes habitada do que somos, há
precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente
e entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la
nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com
a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável, porque
mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem
milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
José Saramago. Provavelmente alegria. Porto: Porto Editora, 2014.
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