quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Memória II

"Eram estranhos os desvios de memória das pessoas da aldeia: coisas que eles se empenhavam em lembrar às vezes fugiam e se escondiam bem no fundo, sob o manto do esquecimento. E exatamente aquilo que decidiam que era muito importante esquecer, justo isso vinha à tona, e saía de dentro do esquecimento como se fosse, intencionalmente, para incomodar. Às vezes se lembravam com os mínimos detalhes de coisas que quase nem tinham ocorrido. Ou se lembravam do que um dia existira e depois deixara de existir, lembravam com dor e saudade, mas de tanta vergonha ou pesar decidiam definitivamente que tudo fora só um sonho. E diziam aos filhos: isso não passa de lenda."

Amós Oz. De repente, nas profundezas do bosque. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Pág. 50

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