Corpo de argila
meu triste corpo
não é verdade
se te disserem
minha elegia
ser mais vaidade
do que homenagem.
Por que o seria?
Me adivinhaste
quando a palavra
nada dizia
e longo tempo
(quando se amava)
havia dias
em que choravas
e estremecias.
Falam de ti.
Da tua pouca
fidelidade.
Mas o que importa
a infinidade
dos teus amantes
se toda vez
que te entregavas
extenuado
te perdias.
Ah, se a poesia
me permitisse
vôos mais altos
mesmo na morte
as confidências
que eu te faria...
Ainda me tens.
E bem por isso
destila em mim
teu peso enorme.
E no poema
que te dedico
meu triste corpo
ainda uma vez
chora comigo
chora comigo.
Hilda Hilst. Baladas. São Paulo: Globo, 2003. pág. 102-103
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