segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Ethan Frome



Ethan Frome é um clássico da literatura estadunidense ainda pouco lido por aqui. Foi com alegria que encontrei esta edição da Editora Penalux possibilitando, enfim, o acesso aos leitores brasileiros a esse texto que é belíssimo.

Na orelha do livro, a escritora Maria Valéria Rezende o compara ao romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos que, assim como em Ethan Frome, a natureza e toda a atmosfera ao redor dos personagens tem uma grande importância no livro, expressando muitas vezes os sentimentos que seus personagens não são capazes de dizer. Assim como em Vidas Secas, este é um romance com personagens de poucas palavras, mas cujos sentimentos são sentidos por nós, leitores, com tal universalidade que talvez seja esse o motivo de provocar em nós tanto encantamento.

Ao contrário de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que se passa no calor do sertão brasileiro, Ethan Frome é ambientado no rigoroso inverno do norte dos Estados Unidos. Um lugar de onde a maioria das pessoas foge por conta do difícil e tempestuoso, para não dizer longo e cruel, inverno. Os poucos que ali residem nesse pequeno vilarejo inventado por Wharton tem suas próprias dores e dificuldades e, ao que tudo indica, ficam ali por não ter outra opção. 

Como em toda cidadezinha do interior, as histórias correm com bastante rapidez e é através dessas histórias, ouvidas aqui e ali, que a história central do personagem Ethan Frome vai se formando aos poucos. Ethan, esse personagem tão duro e silencioso, carrega em seu peito muitas marcas pelo sofrimento de uma vida com muitos problemas, que acabaram por o impedir de sair dali e de mantê-lo em uma vida de muito trabalho na fazenda tentando sobreviver. Seus sonhos e ambições foram podados por condições outras, causando frustração e tristeza, assim como uma grande melancolia. É um personagem triste que nos comove e, o que é mais interessante de ver no romance, que pouco a pouco vai revelando ser dotado de uma grande humanidade. É fácil se encantar por Ethan Frome, e seguimos torcendo até o fim para que ele encontre alguma felicidade em sua vida.

É um desses livrinhos curtos mas que carregam uma grande história. Vale muito a leitura.
Para quem quiser ler um pouquinho da história para ter certeza de que é um livro apaixonante, tem uma amostra AQUI.

WHARTON, Edith. Ethan Frome. Trad. Chico Lopes. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2017.

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Edith Wharton foi uma importante escritora estadunidense, com uma vasta produção e participação na cena literária. Nascida em 1862 em Nova York, Wharton se destaca como a primeira mulher a receber o título de Doctor Honoris pela Universidade de Yale, a primeira mulher a receber a medalha de ouro do Instituto Nacional de Artes e Letras pelo governo americano e a primeira mulher a receber o Prêmio Pulitzer de ficção em 1921. Mais informações: https://www.edithwharton.org/

A canção de Roland


O ano por aqui começou sem muita concentração para ler, então recorri a esta HQ que foi indicada por uma amiga querida como sendo um daqueles livros que são como um abraço. Só posso dizer que A canção de Roland foi realmente um abraço neste início de ano e me ajudou a sair de uma super ressaca literária. Aliás, os quadrinhos são sempre uma ótima opção para superar aqueles momentos em que empacamos nas leituras e precisamos voltar ao nosso ritmo.

Este é um quadrinho canadense e tem como temas principais a velhice, as relações familiares, o luto e o processo difícil que é perder alguém mais velho de nossa família. Mas só essas palavras não conseguem dar conta de todas as sutilezas que este quadrinho aborda, com bastante delicadeza. Acho que é nesse ponto que ele mais ganha: por falar de uma coisa simples que é o dia a dia de uma família, sua história, suas lembranças. É impossível que você, leitor, não vá se lembrar de alguma história de sua própria família ao ler este livro.

Apesar de narrar o processo de adoecimento do avô Roland por conta de um câncer até sua morte, e isso ser o responsável por muitos momentos em que nossos olhos ficam marejados durante a leitura, é também um livro com momentos engraçados dessa família, tão real e simples quanto a nossa.
E embora seja um livro que tem como tema central a morte de um ente querido, A canção de Roland nos faz pensar muito sobre a vida e as coisas que realmente importam quando nossa jornada por aqui termina (ou recomeça). Fiquei muito comovida com esta HQ, que me fez lembrar muito do meu avô e valorizar cada minutinho que eu tenho ao lado das pessoas que mais amo no mundo. É uma leitura que realmente vale a pena.

To the New Year

“To the New Year

– by W. S. Merwin


With what stillness at last
you appear in the valley
your first sunlight reaching down
to touch the tips of a few
high leaves that do not stir
as though they had not noticed
and did not know you at all
then the voice of a dove calls
from far away in itself
to the hush of the morning
so this is the sound of you
here and now whether or not
anyone hears it this is
where we have come with our age
our knowledge such as it is
and our hopes such as they are
invisible before us
untouched and still possible”

(Source: Present Company, 2005)